Retrospectiva Teológica (2008-2015)

Se você acompanha esse blog há tanto tempo, que legal, troféu para você, pois nem eu consegui me acompanhar nessa teologia toda que tentei fazer. Sim, é aquela chatice de metareflexão que ajuda uns poucos que se interessam pela coisa - sabe, criar vínculos entre escritor e leitor, blábláblá. Vai que um dia fico famoso e rico com isso aqui. 

Revisitando textos antigos, consigo lembrar da situação, motivação e objetivo de escrevê-los: de saco cheio com a vida, depressivo, irritado com ignorância e mundanice, inquisitivo, apologético, defensivo, apaixonado, na faculdade, matando aula, na casa de amigos, tomando café por aí, de madrugada, no sofá da casa dos outros, no carro, na garagem, no terraço, enquanto aluno fazia prova, depois de conversas com mendigos, com teólogos, filósofos, pastores, padres, amigos(as), nos EUA, no Canadá, em SP, em Curitiba, na praça no centro de Timbó (8 horas conversa, meu record!), na Furb (tantas vezes na Furb!), no ônibus, escrevi em tantos lugares, ao redor e à companhia de tantas pessoas diferentes, durante períodos tão diferentes, passando por problemas e bonanças, enquanto aluno, enquanto professor, enquanto ambos, solteiro, namorando, com carro, sem carro (na minha vida isso fez diferença!), crendo, não crendo, evangélico xiita, protestante, Ortodoxo-wannabe, liberal, enfim. Cada texto aqui tem um contexto, e cada contexto é formado de pessoas e ideias que fizeram importante parte da minha vida. 

Se você ler o blog, vai suspeitar pelo teor do que está escrito. Se você é meu amigo ou me conhece, vai talvez entender o contexto do texto e entender o que quis dizer. O que ficou bem claro é o quanto a teologia do indivíduo, tanto no âmbito teórico quanto no existencial e fenomenológico - há quem diga que são o mesmo, mas daí o problema é deles - muda. Muda muito! Qualquer um com um coração que arde e uma mente que não para com respeito ao divino, sabe que quando lê a si mesmo de longas datas fica estupefato com o quanto muda de ideia. E não poderia ser diferente. Teologia é sempre uma tentativa: ela sabe que o que tenta saber não se pode ser sabido, Deus. Nunca consegui me firmar em um ramo da teologia por muito tempo, não por ser herege e querer pecar, mas porque não há um ramo que satisfaça ou pinte um quadro admirável de Deus. Todos têm problemas graves que implodem o sistema todo (pelo menos no meu coração e na minha mente). O sistema católico não passa pelo escrutínio da Bíblia ou do Evangelho, o sistema Ortodoxo é descontextualizado demais de nosso mundo e super burocrático, os sistemas protestantes (falo do Calvinismo, Arminianismo, Molinismo e Teísmo Aberto e suas variações) são mortalmente lógicos e acabam jogando nas mãos de Deus a culpa da maldade, os sistemas liberais tem mais cara de socio, antropo, psico e filosofia ... então continuo sem poder completar a seguinte frase: Esse blog é um blog cristão de linha _____. Claro, católicos me chamam de protestante, os protestantes de liberal, os liberais de ortodoxo, etc., mas ainda não consegui identificar esse blog com um dos rótulos da "raça" cristã. Acho que como Erasmo vou apenas dizer que sou cristão e que qualquer outro título anexo a esse seria sacrilegium, roubar o que pertence a Deus. Então apesar de não querer cuspir nos pratos em que comi teologia, não posso também honrá-los. 

Quando - e se - ler o blog, espere encontrar ruminadas as obras e teologias de Blaise Pascal, toda obra de CS Lewis, consequentemente GK Chesterton, Ravi Zacharias, Ariovaldo Ramos, Ed René, Caio Fábio (o trio brasucas!), Frank Schaeffer, Michael Hardin e Orígenes (quantos me queimariam por dizer isso!), William Lane Craig (e quem nunca?), Frank A. Viola e os rabinos Aryeh Kaplan e Manis Friedman. Na música (a melhor teologia que há!), Keith Green, Larry Norman, Phill Keaggy e João Alexandre. Claro que há mais, mas esses nomes foram os que mais reformaram o que penso. Muita história da igreja e sociologia também. Já no lado pessoal, grandes influências foram meu sempre querido Sydney e minha amada irmã Ingrid, Alexander e Dino, Eduardo Kokinho (o nerd!), meus amigos ocultistas e ateus, meus alunos e minha Jamille (Jay Jay) - aliás, é impressionante o tanto de teologia, de Deus e de bíblia que se aprende em um relacionamento! 

Meu maior objetivo com esse blog, até então, foi ficar famoso e rico ... brincadeiras à parte, é isso aí, rico e famoso. Mas agora falando sério, sempre quis ser teólogo ou escritor (sabe, aquelas vaidades boas), mas como ser ambos custa tempo e dinheiro, decidi fazer tudo por aqui mesmo, na amadoriedade (essa palavra existe, segundo o google, há apenas um link onde aparece, e isso já é o suficiente para mim!). E assim que ficarei: escrevendo, escrevendo e escrevendo e levando o blog até o islamismo tomar conta do Brasil e acabar com a liberdade de expressão da internet (se o PT não fizer isso antes, claro).

Depois de 7 anos de blog, 1 livro e 1 ensaio, podcasts, leituras, conversas, pregações (dadas e recebidas) e uma vida ávida de oração, posso dizer que dessa bagunça toda sai o que sou hoje, o que não é muito diferente do que era quando tropecei em Jesus (ou dependendo da teologia, quando Ele decidiu tropeçar em mim) mas que também é completamente diferente do que era quando tropecei (ou fui tropeçado). Todo cristão passa por essa sensação paradoxal de, depois de sua conversão, não mais mudar quem é, mas estar sempre mudando. Ser como um católico, não arredar o pé de quem se é na igreja de cristo. Ser como um protestante, estar sob reforma constante. E ser liberal, estudar tudo e reter o bom. 


Dicas para o ano novo: leia o Novo Testamento. Leia os Profetas. Leia os Eclesiastes, Salmos, Provérbios e Jó. Converse com quem entende de Bíblia. Se tiver saco e estômago, leia o Pentateuco. Não se bitole em um sistema teológico, leia outros. Não defenda o cristianismo, defenda o Evangelho. Leia os clássicos cristãos. Estude o catolicismo, os reformadores, não se esqueça dos irmãos gregos e dos liberais, leia tudo se puder. Congregar é bacana, pode ser essencial, mas não é necessário. Enriqueça sua mente com fantasia, música e artes no geral. Não caia na armadilha do intelectualismo nem na tentação do anti-intelectualismo. Não existe batalha entre fé e razão, religião e ciência, só daqueles que definem os termos. Não seja inquisidor e caçador de hereges. Tente ser amigo dos que consideras herege. Absolutamente esqueça esse papo de condenar pessoas ao inferno, elas já estão nele, tire-as de lá. Ortopraxis primeiro, ortodoxia depois. Estude a história do casamento e da sexualidade, vai te poupar muito incômodo bíblico. O único Jesus que as pessoas entendem é aquele que sua vida pratica, suas palavras não valem nada. O único amor de Deus que as pessoas recebem é aquele que vem através de você, o resto é gramática. Ore muito. Ore mais um pouco. Quando ateu, seja um ateu cristão. Quando duvidar, duvide mas confie. Quando desconfiar, relaxa, Deus te ama. Lembre-se de que teologia não é o evangelho. Acima de tudo, imite Jesus em tudo, e não se esqueça de usar protetor solar.

Guilherme Adriano

Comentários

Anônimo disse…
Não é Sydney... é Sidney... Pib! Saudade!