RG celestial e CPF divino

Acho que todos concordariam que se há uma verdade eterna, ela é o amor. Sim, o amor. Agora, a pergunta que faço é a seguinte: quem elegeríamos como melhor representante dessa verdade eterna?

Bom, Jesus amou as mulheres como o Buda nunca pensou ser possível, ou moral. Jesus amou seus inimigos de uma maneira que Maomé nem quis cogitar. Jesus amou os escravos de uma forma que Sócrates acharia desastroso. Jesus amou as crianças de maneira que deixaria Platão envergonhado pelo que fazia com elas. Diferente de outros filósofos gregos, Jesus amava a sabedoria, mas não a idolatrava. Para Jesus, ao contrário dos gurus hindus, pessoas vinham antes de animais e natureza. Ao contrário de Kardec, Jesus ofereceu misericórdia e perdão divino. Jesus ensinou a amar e sofrer o mundo para redimi-lo ao invés de fugir dele pelo Nirvana e abandonar os que sofrem. Jesus amou os pacificadores mais que Gandhi amou a paz. Um sermão de Jesus gerou mais amor que três mil anos de Confúcio. Os religiosos da época de Jesus focaram mais em Deus do que nos homens; os filósofos, mais nos homens do que em Deus. Jesus não, o foco que Jesus colocava em Deus iluminava os homens.

Se a verdade eterna for o amor, Jesus certamente é seu melhor representante, pois ninguém praticou o amor para com tantos grupos, raças, castas, gêneros, desgraçados e malfeitores enquanto pregava e vivia as mais altas virtudes já registradas. Ninguém tão odiado já amou tanto a ponto de converter tantos corações a si. Assim, para descobrir a verdade eterna, olho para Jesus. Ele não só pregou o amor, mas viveu-o de maneira tão pessoal que diria até que o encarnou! Sua identidade parecia estar atrelada com o amor!

Se Jesus encarnou, assim dizendo, o amor, então não só o que fazia proclamava a verdade do amor, mas também um pouco – se não tudo – do que era. Jesus era amigo, e em amigos se confia, e quero ser Seu amigo, portanto, confio em Jesus. Jesus era mestre, e a mestres se escuta. Quero um mestre como Ele, portanto, escuto a Jesus. Jesus era um bom homem pregador do amor e da verdade de Deus, logo, vou acreditar nesse bom homem e em suas verdades. Se há alguém que poderia falar de Deus, esse seria Jesus.

Não consigo ver Jesus como um mentiroso depois de tudo que disse nem como um louco depois de tudo que fez. Loucos e mentirosos não amam dessa maneira. Então como Chesterton e Lewis disseram, por mais estranho que soe, deve ser verdade o que Jesus disse de si mesmo. 

Mas se Ele é o melhor representante da verdade eterna do amor, por que houve tanta morte e guerra depois dele por causa do que disse? Pela infalível regra do antônimo profanado: quão mais sublime a virtude, mais terrível será se profanada. Algo bom, profanado, é ruim. Algo excelente, profanado, é terrível. Algo divino, profanado, é demoníaco.

Se as palavras de Jesus causaram tanta desgraça é porque são de elevadíssimas virtudes, mas foram profanadas, daí geraram vergonhosas desgraças. A verdade, se diz, é a arma mais poderosa, tanto para o bem como para o mal. O fato de que há tanta maldade e mentira sugere muita bondade e verdade profanadas. Outro fato curioso é o de tantas maldades e mentiras estarem atreladas ao nome de Jesus, o que me faz pensar que há muita verdade e bondade sendo profanadas em Seu nome. Mas que verdades tão elevadas são essas que causam, quando pervertidas, tanta desgraça? Sim, pois deve ser algo muito elevado, porque algo medíocre não teria um antônimo tão desastroso como as tantas matanças e torturas feitas pela religião. A ética dos filósofos e dos mestres não gerou as guerras que a ética de Jesus gerou. Os caminhos dos religiosos orientais não virou o mundo de cabeça para baixo – aliás, não virou nada em lugar algum. Mas o que Jesus pregava não era algo cotidiano como fazer o bem, não era só isso. O amor que Jesus pregava era algo mais profundo e relacionado à verdade de Deus, que o nazareno dizia estar associado com ele, e só ele.

Sustento que as palavras de Jesus geraram tanto horror e desgraça no mundo por serem as mais elevadas e sublimes verdades do universo que, nas mãos de idiotas, foram profanadas, pervertidas. Não se pode fazer nem muito estrago nem muita benfeitoria com uma pedrinha, mas com uma pedra grande pode se construir o fundamento de uma casa que abriga uma família ou demoli-la por inteiro e matar todos que nela estão. Quanto maior, maiores as possibilidades de fazer o bem, e o mal.

Se o amor de Jesus é a verdade eterna, seu amor deve ser crido eternamente. Morreu cravado a um pedaço de madeira para demonstrar o teor de seu amor e deixou um túmulo vazio em nossa história[1] que é como um aluno rebelde em sala de aula, todos percebem que está lá, mas ninguém quer lhe dar a atenção devida para não se incomodar em ter de lidar com ele.  

Guilherme Adriano



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