Ateísmo Calvin Klein


Ateísmo Calvin Klein: bonito, pop e vive de aparências. O ateísmo divulgado, discutido e curtido nas redes sociais e nas mídias não é uma descrença, nem sequer uma crença ou até uma filosofia, é uma moda. Aliás, era de se esperar que até nisso a imagem tivesse substituído a essência. O ateísmo de internet parece, mas não é. É um ateísmo que não sabe para que serve o prefixo grego a-, nem muito menos o que querem dizer com theos. Também é um movimento sem –ismo, isto é, sem uma ideologia, mas cuja base de criticismo são memes, tiradas irônicas de personagens famosos como Dr. House, Tony Stark, a caricaturização da religião em desenhos como Uma Família da Pesada, Os Simpsons e South Park, o sensacionalismo de massa do ATEA e perguntas clichês. Ou seja, é um ateísmo que não sabe negar, não conhece o que nega, não possui ideologia nem sabe defender suas críticas; não tem nada de a-, nem theos, nem –ismo. Então o que é? É pop! É bonito! Ganha a vida impressionando pela aparência!

Foi o escritor francês Guy Debord que disse em Sociedade do Espetáculo que “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. É bonito, então está na tela. Está na tela, então é bonito. Sendo que tantos curtem, e é tão cheio de ironia e traz fotos tão bonitas, deve ser verdade. Logo, está na tela, e se está na tela, é verdade, e se é verdade, está na tela. Na sociedade do espetáculo, a verdade é aquilo que é bonito, atraente, sofisticado, e o que mais poderia abranger todas essas qualidades do que um galã rebelde com barba de três dias que em tom de desprezo se indaga, “Deus?”. Garanto-lhes, leitores, o ateísmo dessa geração não é ateísmo filosófico, muito menos refletido, e sim do espetáculo. Por exemplo, Dr. House é ateu, e também bonito. Então por ser bonito, deve dizer a verdade, logo, Deus é uma ilusão. Sou professor do ensino médio, reconheço de onde saem as ideias dos meus alunos. Também leio muito e conheço cultura pop, sei de onde vêm seus raciocínios – se é que posso chamá-los disso!

Creio que acostumados com os bad boys hollywoodianos e a música “revolts” da cultura pop, a minha geração vê a descrença – se é que pode se chamar de descrença! –, a oposição e a rebeldia como sendo sexy e sofisticadas. O ateísmo dessa gente é senão o subproduto da filosofia pseudoanarquista capitalista propagada por essas mídias; é um tipo de histeria coletiva, de crendices de redes sociais que de curtir em curtir agregam gente suficiente para a criação e afirmação de alguns dogmas.

Para muitos, funciona assim: cite livros, estudiosos, pensadores, apresente argumentos e filosofe, ficarão entediados, rirão da sua cara e dirão para aproveitar melhor seu tempo, mas cite Lady Gaga e Morgan Freeman e voila, Deus desaparece, o cristianismo se torna mau e os cristãos uns idiotas. Como arrazoar com tais? Já indagou o filósofo cristão Ravi Zacharias, “como se fala com uma geração que escuta com os olhos e pensa com os sentimentos?”  Não escutam, olham. Não pensam, sentem. Assim, contanto que seja bonito e faça se sentir bem, é verdade.

Não sabem o que significa o prefixo grego a-. O jovem ateu internauta é um coitado, coitado, confunde criticar com negar. Criticar a religião não é negar Deus, muito menos argumentar em favor de sua inexistência. Já nos alertou Agostinho desse tipo de falácia quando disse que “não se pode julgar uma filosofia pelos seus abusos”, e foi o romancista inglês Charles Dicken que os mandou uma mensagem através de seu mais famoso livro Um Conto de Natal, quando em um dos diálogos entre Ebenezer Scrooge e o Espírito do Natal do Presente, Ebenezer acusa a igreja de alguns sofrimentos e o espírito replica dizendo: “Há alguns nesse seu planeta”, respondeu o espírito “que afirmam nos conhecer e que fazem suas obras de paixão, orgulho, má vontade, inveja, intolerância, e egoísmo em nosso nome, mas que são completamente estranhos a nós. Lembre-se disso, e cobre tais erros deles, não de nós. A religião pode ser má, muito má, mas isso faz Deus desaparecer assim como um acidente no trânsito faz carros serem irreais. 

Não sabem o que é theos: Fiquei surpreso quando, há pouco, “debati” com um colega meu ex-evangélico (que surpresa...) que se considera agnóstico e fiquei perplexo com sua ignorância a respeito da fé que se gaba de ter perdido. Coitado, mesmo. Enche o peito e ri sarcasticamente quando diz que era cristão e se orgulha de dizer que “sabe como isso funciona”, enquanto que na verdade era neopentecostal seguidor do evangelho da prosperidade, e hoje, machucado pelos abusos de seus ex-líderes, diz que o cristianismo é ridículo e que Deus não existe. Também me disse que um dos motivos pelos quais perdeu a fé era por ter descoberto que os sete dias de Gênesis talvez não sejam literais. Não estou dizendo isso em tom de desprezo intelectual, mas de pena. Pena porque esse indivíduo, por exemplo, se filiou a algo que não entende o que é para negar algo que nunca entendeu como funciona. Como que se nega no ateísmo o que nunca se conheceu no teísmo? 

Dizer-se agnóstico nessas horas é fácil, mas lembremos que a etimologia do termo não é algo sobre a qual alguém gostaria de se gabar. Agnóstico é equivalente a ignoramus em latim, da onde vem a palavra “ignorante.” Defender  a suposta humildade do termo com a máxima de Sócrates “tudo sei é que nada sei” não faz o agnóstico menos categórico e dogmático, pois ele afirma não só que não sabe, mas que não é possível saber, e nisso o filósofo norte americano Norman Geisler corretamente critica o agnosticismo dizendo que é uma posição autodestrutiva, “faz a afirmação que um indivíduo sabe o suficiente sobre a realidade para afirmar que nada pode ser dito a respeito da realidade”, e “o completo agnosticismo é autodestrutivo porque ele aceita certo conhecimento sobre a realidade para negar qualquer conhecimento sobre a realidade.” 

O deus dos ateus não existe. Eles dizem que deus não se importa com a humanidade. Ora, tal deus não existe. Nisso concordo com o ateu. Também gostam de lembrar as guerras do antigo testamento e dizer “Viu? Um Deus assim não pode existir!”. Mas veja que péssima lógica e pouca reflexão! Pense comigo: Se Deus mandou fazer guerras, Ele existe, pois quem manda fazer algo tem que existir primeiro, assim, o ateu está errado na sua conclusão. Mas se Deus não existe, então as guerras que supostamente mandou fazer não passam de histórias inventadas, logo, o ateu está acusando o ar de crimes imaginários. Resumindo: Se Deus é mau, então Ele existe, e daí é a opinião do ateu contra a de Deus. Se Deus não existe, então Ele não pode ser mau, e o ateu, ao acusá-lo, incomoda-se com sua própria imaginação e a dos outros. 

Essa necessidade de negar Deus que o ateu tem sugere que há algo incomodando que vai para além das burradas da religião, pois veja que não creio em fadas nem em duendes, no entanto não me considero afadário nem aduentista, muito menos participo de grupos online que negam a existência de tais seres. Não existem, assim, não me incomodo. Mas se há uma necessidade universal e atemporal de negar a existência de uma divindade, fico a pensar que aí tem coisa...

Não tem –ismo: Desde minha conversão, a descrença – se é que pode se chamá-la descrença – tem me interessado muito, não apenas por ter sido latente em mim durante meus anos de fé, mas por ter sido apresentada como a alternativa sadia e intelectual às barbáries das superstições da religião, o que não poderia ser mais falso, pois um que conhece a história do século XX prontamente reconhece os crimes dos regimes de Mao Tsé-Tung, Stalin, Lenin, Pol-Pot, Enver Hoxham, Fidel Castro, King Jong-il, etc., cujos regimes tinham como componente central o ateísmo e a intolerância à religião. (E isso sem entrar na questão do nazismo, que apesar de ter sido repleto de religiosidade, foi baseado no Darwinismo social materialista).

O ateísmo das redes não possui uma ideologia, um –ismo. Já conversei com alguns “ateus e agnósticos brasileiros” e fiquei extremamente desapontado, pois mais da metade de suas argumentações eram desprezos, falácias bem conhecidas e relativismo politicamente correto. Nem todos os debates foram assim, debati, sim, com dois ou três estudados, e foram debates amistosos, ferrenhos e cheios de paixão, mas respeitosos e, para mim, construtivos, pois pude analisar o psicológico da fé anti-teísta. Mas a maioria dos debates foi uma lástima...lástima! Acusações de intolerância e preconceito religiosos do começo ao fim, e quando dava a oportunidade de sugerir uma solução, diziam: “Acabar coma a religião e com esse bando de fdp!”.

Tais gênios se fazem vítimas de seu próprio discurso; refutam seus próprios argumentos. Querem tolerância, mas querem apenas para os ateus e agnósticos. Querem que todo tipo de fé possa coexistir pacificamente, exceto as que afirmam Deus. Querem paz, e para isso estão dispostos a “acabar com a religião e com esse bando de fdp!”. Interessante lógica, não acham?

Allister McGrath, ex-ateu e autor do livro The Twilight of Atheism, The Rise and Fall of Disbelief in the Modern World, escreve: “O ateísmo, no entanto, tem uma tendência perturbadora de se ver como a única e verdadeira fé, e requer que todos se conformem a suas crenças.”.

Então de onde nossos jovens tiram os argumentos para formar dogmas ateus? Dos escritos de Freud (Deus é ilusão)? De Marx (Deus é ópio)? De Feuerbach (Deus é uma criação)? De Nietzsche (Deus é tirania)? Da ciência (Deus não é necessário)? Na fé humana-materialista? Não, não. Nada disso, nem sabem quem são esses. Nossos jovens vão mais a fundo em fontes mais eruditas, tais como Tony Stark, Wolverine, Dr. Gregory House, Lady Gaga, Sheldom Cooper, Harry Potter, Homer Simpsons, Peter e Stewie Griffin, Dexter, Patrick Jane, entre outros que simplesmente sabem do que estão falando! Gente de peso mesmo! Ah, sim, sem contar a influência da música no processo de formação de verdades universais a respeito da metafísica! Andrew Fletcher, pensador político escocês, disse: “Dêem-me a capacidade de compor as canções de uma nação e não me preocuparei com quem escreve as suas leis.”.

Creio que o –ismo ateu contemporâneo pode se resumir ao que a ateia Madalyn Murray O’Hair escreveu em seu livro What on Earth is an Atheist?: “[...] não existem poderes sobrenaturais, nem podem existir.”.

Filosofia de TV a cabo, internet e música popular agora respondem as quatro perguntas mais essenciais para qualquer ser humano, de onde, pra onde, por que e como sei.

Esse ateísmo Calvin Klein é assim raso, irrefletido, simplório e contraditório, mas bonito e popular, por isso sobrevive e vende tanto.

Querido ateu que lê o blog, se ateu, creia como ateu, e saiba o que ateu crê, de outra maneira, poupe o embaraço e não perca grandes oportunidades de ficar quieto, não queime o filme de quem realmente crê no a– theos –ismo.

Amo vocês amigos e colegas ateus e agnósticos.

Guilherme Adriano

Comentários

Cicero disse…
Permita-me uma citação:
"Num certo dia de outono, um corvo falou a uma pequena andorinha, que estava ainda no seu primeiro ano de vida. Disse-lhe o corvo: "Vejo que te preparas para uma longa jornada. Pra onde vais voar?" A andorinha respondeu: "Este clima está a tornar-se cada vez mais frio. E eu poderia vir a morrer gelada. Voarei pra um país mais quente." O corvo cheio de astúcia zombou:"Lembra-te bem do teu nascimento. Não te esqueças de que nasceste há apenas um par de meses. Como sabes tu que há um país quente onde possas abrigar-te quando aqui haja frio?" A resposta da pequena andorinha não se fez demorar: "Aquele que me pôs no coração o desejo de voar pra um clima quente não pode enganar-me. Creio Nele, e por isso vou partir." E assim a andorinha encontrou o que buscava" (Resposta a bíblia de Moscou, pg.138).

Nassos desejos e necessidades físicas e emocionais podem ser satisfeitos aqui; então por que não haveria de nossa alma e coração serem satisfeitos pelo Criador destes mesmos desejos e das coisas que os satisfaçam?
Até ateus mostram sede de Deus e desejam o céu e sabem disso cfe. Rm 1:20 e 2:15. Suas palavras e atitudes os traem:
As últimas palavras de Yaroslawski - Presidente do movimento internacional ateísta: "Por favor, queimem todos os meus livros. Vejam o Santo! Ele já espera por mim, Ele está aqui".
O ateu frances Camus disse:"Nada pode desencorajar o apetite pela divindade no coração do homem"
E aqui uma analogia de arte; e um pequeno debate entre um crente e ateu:
http://www.reavivamentos.com/pt/livros/wurmbrand/RW_palavra_da_verdade.html
Anônimo disse…
Nenhum religioso cita Epicuro, né? Além disso, se Deus é tão poderoso e, de fato, existe, por que ele e esconde?
Cita, claro que cita. Eu pessoalmente cito bastante, mas não me impressiono com o trilema dele. Lewis e Platinga resolveram de maneira bem interessante o trilema. Irineu, no primeiro século, Agostinho de Hipona e Justino também resolveram o problema há muito tempo. Epícuro é apenas novidade para ateu que não conhece para refutar o que não entende nem acredita.

Ele não se esconde, nós nos escondemos dele. :)