Choro e Sofro, Que Bom

Não tento abordar todo o sofrimento do mundo com esse texto, não poderia fazê-lo nem com minha experiência de vida. Cabe a nós, ocidentais mimados, gordos e saciados da classe média, chorar e agir antes de nos rebelarmos contra Deus – no qual muitas vezes, ironicamente, não acreditamos –, cruzarmos os braços e protestarmos em blogs como esse. Como não tenho coração nem condições de racionalizar mais o sofrimento, vou chorar e fazer alguma coisa. Por que sofremos é óbvio: gostamos de maldades. E quem poderia provar que não? Gostamos de maldades, de violência, etc. Claro que sim. Dê uma olhada na locadora de filmes mais próxima à sua casa, preste atenção nos títulos e nos pôsteres. Assista à televisão e veja o que gostamos de saber: Jornal da manhã diz, “Bom dia! Aluno é assassinado dentro de sala de aula...”. Jornal do meio dia diz, “Boa tarde! Acidente envolvendo motoqueiro mata sete...”. Jornal da noite diz, “Boa noite! Menina é assassinada a golpes por rapazes...”. Matérias centrais de revistas trazem insights a mentes criminosas e detalham a rotina de estupradores – trazendo fotos, é claro! Games, bom, nem preciso entrar nessa questão, quem acompanha o blog sabe o que penso sobre isso.

Por que a gente sofre? Porque a gente gosta de maldades. Simples. Eu e você, todos nós nos entretemos com a maldade. Por que gostamos de maldades? Isso é outra história, e Jesus nos deu a resposta também: decidimos redirecionar o instinto de adoração ao ser humano e entronizá-lo como soberano e sua vontade como lei. Mas é claro que tantas vontades soberanas não poderiam coexistir, logo, as mais fortes aniquilam as mais fracas! Se a minha vontade, soberana, é de comer mais do que devia, alguém vai ficar sem comer. Agora se uma nação toda pensa assim, outra nação toda ficará sem comer! Mas já que muitas nações pensam assim, muitas outras nações ficam sem comer! Quem come demais é você, e não Deus, então sua é a culpa. A liberdade que o homem tem para amar ele usa para causar sofrimento. Por quê? Porque ele quer, simples e objetivamente assim: ele quer.

Jesus ensinou o sacrifício e a caridade. Quem ama sofre e ajuda. Quem não ama faz sofrer e tira o sustento de muitos (evangélicos, entenderam pra que serve o dízimo?). Aprendi com um colega durante um longo debate que a única resposta eficaz ao sofrimento é sua solução. Respondemos ao sofrimento sendo a solução a ele. Jesus não deu uma resposta exata, Ele foi a resposta exata “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ele não nos ensinou a chegar ao Pai, Ele nos levou ao Pai. Ele não proferiu sistemas filosóficos em resposta ao sofrimento, Ele curou, alimentou e consolou. Não descarto a curiosidade em saber o porquê do gostarmos do mal, mas isso é secundário, como já escrevi antes. Agora Jesus nos deu a solução ao problema do sofrimento, quando voltar, nos dará a resposta ao mistério do sofrimento. A maldade sim é um problema e um mistério. O problema a gente resolve à moda de Jesus, o mistério a gente especula. O problema deve ser resolvido agora, o mistério, Deus escolheu responder por completo depois.

Comover-se e chorar consola mais que respostas bem pensadas. Mas o choro para consolar deve ser autêntico. Choro autêntico requer compaixão verdadeira. Compaixão verdadeira é fruto do amor-ágape. Quem ama dessa maneira sofre muito. Sendo que nós, gordos e abastecidos ocidentais, estamos pouco dispostos a sofrer, não podemos amar. Não amando, não choramos. Não chorando, tornamo-nos indiferentes. Sendo indiferentes, não temos remorso. Não tendo remorso, não temos consciência do sofrimento alheio, assim, contribuindo com seu avanço.

O que os olhos não veem o coração não sente, dizem. Antes fosse que nossos olhos não vissem, assim teríamos uma desculpa. Mas não! Nossos olhos veem, e vendo, fecham-se. Quando fechamos os olhos nos tornamos em monstros consumidores dispostos a gastar, anualmente, mais com papel higiênico perfumado do que com caridade.  Se ao invés de imitarmos o estilo descolado e irreverente de um rock star, imitássemos o estilo humano e divino de Jesus, estaríamos melhor hoje. Mas não! Che Guevara no peito, Ozzy no ouvido, revolução na cabeça, crítica ao sistema e à igreja na boca, não sabendo que somos, possivelmente, aqueles contra os quais discursamos.

A dor é o “por quê” que não precisa ser pronunciado. Um choro sem consolo é um "por quê" sem resposta: nos tortura a alma. Uma das soluções que Jesus deu ao sofrimento é "Eu entendo teu sofrimento; sofri também! Mas sofre comigo! E enquanto sofre, redime o que te faz sofrer; perdoe-o! Um dia a injustiça dos iníquos será imputada a eles, até lá, me imita e sofre comigo!" Há sofrimento desnecessário, e deste o mundo está cheio, e para este haverá justiça perfeita; enquanto suas vítimas são resgatadas por Deus, seus causadores serão justamente punidos. Deve haver justiça! É o mínimo que esperamos de um Deus que se diz justo! Mas também deve haver perdão, é o que se espera de um Deus que se diz amor! Então é assim: Deus trará justiça sobre todo injusto enquanto resgata e justifica os que se arrependeram de suas injustiças trazendo a culpa de seus pecados em Sua cruz. Um dia haverá justiça cósmica, até lá há graça abundante.  

O choro é a vida dizendo ao sofrimento “você não deveria existir!”, e um dia não existirá mais, Jesus prometeu e disse "se não fosse verdade não vo-lo teria dito". Jesus também prometeu que sofreríamos por segui-lo, então se você está sofrendo quer dizer que as promessas de Jesus estão se cumprindo, não porque Ele assim quer, mas por ser inevitável o sofrimento nessas condições de existência. Sofrer não quer dizer ser desamparado por Deus, mas o põe em um lugar onde Deus pode usá-lo para trazer grande alívio a outros.

A dor é algo intenso demais para ser descartado como sem significado. Cada lágrima é um “por quê?” e, pra mim, serve para lembrar o niilista de que as coisas têm propósito, se não houvesse, não choraríamos pela perda de sentido, e sim pela falta de sentido.

Quanto mais cresço em devoção, ou decaio, depende do ponto de vista, mais aprendo que a maneira de Jesus de lidar com seres humanos é deveras a maneira mais louvada e menos praticada.

Sugiro que não mais briguemos a respeito do mistério da maldade e fossemos direto ao trabalho de extermínio dela. 

Guilherme Adriano



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