Novos Céus e Nova Terra

Diferente de outras épocas a nossa é sem grandes esperanças ou expectativas terrenas. Durante as expansões marítimas assim como na descoberta das Américas – ou mundo novo –, ainda havia esperança de um novo começo num novo lugar; o mundo ainda era grande e suas fronteiras eram possivelmente ilimitadas. Mas segundo historiadores, o mundo encolheu. Não há mais bravos mundos novos nesse planeta, apenas cansados mundos velhos. Mapeamos, medimos, pesamos, estudamos e exploramos o mundo de maneira que não há nada mais nele que possa nos surpreender. Alguém que viajasse à China ou à Nova Zelândia há um, dois séculos atrás não poderia anteceder suas paisagens, cultura ou encanto. Já hoje isso tudo é monótono. Dificilmente ainda há olhos que se espantem e se admirem com paisagens novas. O elemento que encantava, o elemento surpresa, não existe mais. As paisagens mais belas foram fotografadas e reproduzidas virtualmente e as culturas mais distantes foram trazidas para bem perto em resumos de enciclopédias. Não era de se esperar que, cansados desse planeta, estivéssemos especulando a possibilidade de habitar outro qualquer. Filmes e livros agora olham para lugares além da órbita terrestre, pois o que havia de ser conhecido debaixo do sol já foi. O que encantava a mentalidade do homem mais antigo eram os selvagens mundos novos, aqueles que estavam além dos oceanos e do outro lado de continentes. Chegamos lá. Vislumbram-nos por um tempo, mas daí os novos mundos se tornaram comuns e monótonos. Daí fomos à lua. Ao chegar lá vimos que não havia nada de mais, aliás, havia apenas nada! Daí mandamos robôs a marte. Nada também. Sem esperança alguma de sair desse planeta para habitar algo melhor, decidimos criar ferramentas que nos possibilitassem a criação de um mundo novo, à nossa imagem e semelhança, e assim foi feito, e então vimos que a internet era boa e chamamo-la de Mundo Digital. Lá vimos que era possível criar, a partir de uns e zeros, universos novos, digitais. Mas esses mundos não eram reais, apenas virtuais. Então desenvolvemos a realidade-virtual, e para extrair da virtualidade o máximo de realidade possível tivemos que adentrá-la. Óculos 3D e sensores de movimentos são por enquanto a porta de entrada. Êxodo rural, depois êxodo urbano, e depois de uma tentativa boba de êxodo terrestre imigramos para o mundo digital. Passamos de tribos nômades a aldeias, de aldeias a vilarejos, de vilarejos a cidades, de cidades a metrópoles, e, não podendo ir a outro lugar geográfico, nos mudamos para um cibernético. E por enquanto é por ali mesmo que estamos. Nas redes sociais estabelecemos família, em blogs construímos lares e pelas imagens e sons viajamos. O mundo encolheu, e com isso a esperança de uma sociedade melhor está ameaçada de extinção. Aos poucos somos forçados a concordar com os cristãos em projetar nossas esperanças de um mundo melhor para além do tempo e espaço, pois quanto mais progredimos, mais entendemos que, nesse tempo e nesse espaço, nenhuma melhora será possível.

"What a mess this world is in, I wonder who began it...
well, don't ask me, I'm only visiting this planet!" - Larry Norman.

Guilherme Adriano

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