Quem é Bom?


Há um tempo escrevi o seguinte: “Odiamos a paz, e por isso nos divertimos coma violência e vivemos em guerra, seja literal ou relacional. Odiamos o amor e a fidelidade, e por isso valorizamos o corpo e desprezamos a pessoa; incentivamos a paixão e desmotivamos o compromisso. Odiamos a liberdade e a satisfação, e por isso fizemos questão de arranjar meios para nos manter sempre viciados e insatisfeitos enquanto correndo atrás da próxima descarga de alívio...”, queria continuar a ideia.

Disseram-me que ações falam mais do que palavras. Se isso for verdade, e creio que é, o que elas estão dizendo de nós através dos séculos? O que esse século passado teria a dizer sobre nós?

Você não acha que se nós, homens, pudéssemos mudar o mundo já não teríamos feito isso depois de tantos e tantos mil anos? Aliás, se realmente pudéssemos, concluiria que somos piores ainda, pois depois de tantos anos podendo fazer algo, não fizemos.   

Não cometo mais o erro de confundir simpatia e boa educação com bondade. Não acredito que o homem é bom. Somos maus, e isso é fácil de defender. Sinceramente, quem acha que não é mau nunca deve ter tentado ser bom (O que é ser bom? Já chego lá!)

C.S. Lewis disse assim, que ser mau é ruim, mas não admitir ser mau é ainda pior. Se dermos uma olhada na vida daqueles homens que consideramos bons, veremos que eles não tinham grandes visões de si mesmos e dificilmente se achavam bons. Ou seja, aquele que é considerado bom geralmente é aquele que se considera mau.

Duas virtudes que encontramos num homem bom são a humildade e a sinceridade. Quem é humilde e sincero não tem problema em admitir que erra e tem desejos maus. Certamente aquele que tem desejos maus e erra não deve ser bom. Então vejo uma conexão entre ser virtuoso e não ter ilusões sobre si mesmo do tipo: sou uma pessoa boa!

Uma vez o jornal The London Times encomendara ensaios a certo número de escritores sobre o tema “o que há de errado com o mundo”, e a resposta de G.K. Chesterton foi esta:

Caros Senhores:
Eu.
Sinceramente,
   G.K. Chesterton

Não tenho mais ilusões a meu respeito, sei quem sou e do que sou capaz. Sábio Sócrates que ensinava “conhece-te a ti mesmo”. Esta é a primeira coisa que aprendemos quando chegamos à cruz de Cristo, quem somos, e não só o que pensamos que somos sob nossa pequena luz da razão, mas à infinita luz de Deus. Quando me chego a Deus vejo duas coisas, quem sou e quem Ele é, daí percebo um abismo. Então é assim, com Deus, sou uma pessoa má que aos poucos melhora, sem Deus seria apenas mau, ponto.

Todavia não creio na depravação total como uns cristãos creem. Se fossemos totalmente depravados não saberíamos nada além da depravação, e isso não é verdade. Se fossemos assim nem sequer reconheceríamos nosso estado caído. O homem não é completamente depravado, a prova disso é que há pessoas virtuosas e caridosas que não são religiosas – agora, se essa caridade toda é genuína ou não, daí é outro debate. Mas, claro, mesmo não sendo totalmente depravados ainda assim não somos bons! Ser um pouco bom significa ser muito mau.

O que é ser bom então? Sendo esse um termo que caracteriza pessoas, não seria melhor defini-lo personificando-o? Se estamos a discutir o que é ser uma pessoa boa, não deveríamos vincular nossos exemplos a pessoas e virtudes? Façamos isso então. Quem é o exemplo mais usado de pessoa boa e em quem encontramos o maior número de virtudes personificadas? Ora, Ele mesmo. De quem é o nome que pronunciamos quando estamos tentando estabelecer princípios morais e nos perguntar, “o que Ele faria em nosso lugar?” Ora, bem o d’Ele. Quem é o homem em quem nem judeus nem romanos nem gregos acharam erro algum? Pilatos lava as mãos e diz, “não vejo nada de errado nesse homem, sou inocente do sangue dele”, os judeus dizem, “não é por tuas obras que queremos te apedrejar, mas é por tu, como homem, te fazeres igual a Deus!”, aqueles que antes zombavam, agora diziam, “veja! Ele ora por aqueles que o crucificam! Quem é ele?”. Esse é o mesmo que desafiou as multidões dizendo “quem aqui é capaz de me convencer de pecado algum?” Seu nome é Jesus, o Cristo. O que é ser bom? Ser bom é ser como Ele.

Bom, deixe-me confessar algo: os cristãos também querem pecar. Muitas vezes eu também quero cometer coisas horríveis. Os cristãos também têm desejos terríveis, machucam pessoas, dizem besteiras, mentem, roubam, adulteram, etc. Não somos pessoas boas, e sim arrependidas e melhoradas, mas não teria a coragem de nos chamar de bons. Quando falamos de moralidade e pregamos virtudes não falamos de nós mesmos, mas d’Ele e de como deveríamos ser. Nós somos os primeiros que devem se conformar às pregações! Não estamos sendo moralistas quando dizemos “isso é errado e isso é certo!”, apenas estamos repetindo aquilo que Deus nos ensina, nossos corações desejam e nossa consciência testifica. Não pregamos a perfeição porque fazemos parte dela, mas porque tentamos chegar nela a todos os custos, e não para ganhar o favor de Deus, esse já é nosso de graça, mas é por gratidão que agimos assim.  

Há pouco tive um debate com um espírita, quando perguntei a ele, “e como chegamos a Deus? É possível fazer isso na sua visão?”, ele disse “Sim. Mérito!”. Mérito? Bom, se esse for o critério, boa sorte pro resto de vocês, já estou ferrado. Graças a Deus não é isso que Jesus ensinou.

Tanto o super-homem da filosofia ocidental quanto o homem-iluminado da filosofia oriental caem por terra num breve estudo da história. Jesus, em poucas palavras, acaba com milênios de filosofia ao dizer “a luz não está no homem!”. A solução não está dentro de nós, mas o problema sim. “A luz veio ao mundo”, disse João, “mas os homens a rejeitaram, pois suas obras eram más”. Essa descida de Jesus ao mundo, que João relata, pode ser representada da seguinte maneira: imagine que nós, seres humanos, estivéssemos num quarto escuro, (o mundo) participando de uma grande orgia (vivendo nossas vidas), daí vem Jesus abre a porta, entra no quarto e acende a luz. De repente nos vemos nus e nos violando daquela maneira terrível. Então, o que fazemos, dizemos “Jesus, tem misericórdia, nos dá roupas e ensina a gente a viver na luz!”, ou dizemos “Jesus, apaga a luz se não a gente te mata!”. Bom, eu sei o que fiz, e vocês?

À luz de Deus, a saber, Seu Filho, ninguém é bom, ponto.

Diante de Deus pensamentos e cogitações são como filmes a todo volume. Então, que tipo de filmes Deus anda assistindo em nossas mentes, heim? Pois é, quanto filme de terror Deus assiste em nós, não? Quantos filmes eróticos Deus deve ver em nós homens, não? Quantos filmes de ódio, vingança e traição Deus deve assistir nas mulheres, não?

Você se acha bom? Acha que chega a Deus na base do mérito? Tudo bem, não quero contrariá-lo. Vai fundo! Um dia você cansa e desiste, quando isso acontecer, lembra de Jesus, Ele vai estar do seu lado dizendo “tssc tssc tssc... e agora, quer ajuda?”

Quem tem fé em si mesmo, para mim, é mais crente que o cristão! Olha, eu acredito em muita coisa difícil de explicar, mas se você crê em si mesmo, meu amigo, você é muito mais crente que eu!

“Incrédulos, os mais crédulos.” – Pascal.

Guilherme Adriano

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