Entendes o Que Lês?



Que triste, escrevo para quem não sabe ou não quer ler! Isso não é uma crítica ao leitor/seguidor desse blog, mas ao internauta em geral. Quantos mais livros leio a respeito do avanço da tecnologia mais confirmo este veredito: Internauta não sabe ou não quer ler, e por isso vem para blogs como esse! A primeira reação que costumo receber a tal crítica é “mas foi comprovado que essa é a geração que mais lê!” Dois pontos aqui, primeiro, que tenho problema com o chavão “foi comprovado”, porque foi comprovado que quase sempre que disser “foi comprovado” serei acreditado. (Entendeu?) Minha primeira reação depois de escutar um “foi comprovado” é perguntar “por quem?”, “por que faculdade, instituição, grupo de pesquisas ou estudiosos seu argumento foi comprovado?”; quais são suas fontes? Mas aparentemente a maioria crerá em qualquer coisa que for dito depois das frases “a ciência provou” ou “foi comprovado.”

Creio que somos a geração que mais lê e também a que menos entende ou lembra do que lê. Ler mais não significa ler melhor. Nem sequer estudar mais significa ser mais inteligente ou aprender mais.

Compare o leitor e ouvinte comum da década de 40, que acompanhou pelo rádio C.S. Lewis no seu Cristianismo Puro e Simples, e o leitor ou ouvinte comum de hoje. C.S. Lewis escrevia e falava a pessoas  não cultas. Cristianismo Puro e Simples foi um livro direcionado ao público leigo em teologia, religião e filosofia, e veja seu conteúdo! Poucos hoje conseguem ler esse livro e dizer “entendi!” Tive um colega que desistiu de sua leitura já nas primeiras páginas e disse “isso é coisa pra doido; não entendo NADA.” Por favor, não estou chamando meu amigo de burro, apenas dizendo que a pessoa comum de hoje aparentemente tem menos capacidade de  prestar atenção e interpretar do que a pessoa comum da década de 40. Mas por quê? O que mudou? Não temos mais acesso à informação do que eles tinham? Não lemos mais do que eles? Não debatemos mais? Não escrevemos mais? Não conhecemos mais?

Há vários e vários e vários livros, artigos e reportagens que demonstram e explicam as causas do emburrecimento global, e a maioria delas concordará que a internet é um dos motivos mais fortes.

No livro Mídias sem Limite, Todd Gitlin escreve que hoje, século XXI, consumimos mais imagens e informações em apenas uma semana do que uma pessoa do século XV consumiria em sua vida toda. Pelo que tudo indica, quanto mais estivermos expostos a informações menos absorvê-la-emos.

Fascinante! Em II Timóteo 3. 1-9 (Leia o versículo, e não na internet! Abra sua Bíblia e vá lê-lo na íntegra!) , o apóstolo Paulo dá uma descrição chocante e muito precisa do homem pós-moderno ao dizer que,  “nos últimos tempos”, haveria homens que aprenderiam sempre e nunca chegariam ao conhecimento. Talvez não estejamos às portas dos últimos tempos, mas certamente somos esses tais homens, que, segundo Malcolm Muggridge, “educam-se à imbecilidade” e, mesmo estudando, não aprendem.  

Estou terminando agora o livro The Shallows, de Nicholas Carr – recomendo infinito de vezes + 2 –, que argumenta extensivamente sobre os danos que a internet causou nos hábitos de ler, escrever, prestar atenção, argumentar, raciocinar, aprender e até mesmo no desenvolvimento do cérebro.  

Segundo o autor, a atenção que um internauta dá a uma postagem de blog é, em média, de uns 30-40 segundos antes de clicar em outro link e pular para outro assunto. É muito provável até que nem metade dos tantos acessos que recebo por dia nesse blog sejam de fato acessos, e sim apenas ricocheteadas, esbarrões e tropicões que usuários dão em meu blog ao navegar pela Net. (Se você já chegou até aqui lendo, prestando atenção e entendendo, considere-se feliz!)

Banners, fotos, links, gifs, vídeos e sons distraem o “leitor” e não o permitem ter uma leitura profunda. As distrações são muitas, a preguiça mental é grande e as tentações de clicar naquele outro link e surpreender-se com o que quer que seja que o espera naquela outra página são irresistíveis. Claro, há grandes benefícios na interconectividade de textos, mas vários estudos demonstram (sério, não vou citá-los, mas quem os quiser, mande-me e-mail!) que a habilidade de ler linearmente, isso é, seguindo uma linha de raciocínio apenas sem interrupções ou pulos de dentro do texto para outros textos através de links está em extinção. Como o autor diz, acabamos desenvolvendo um cérebro de malabarista, fazemos até sete coisas, superficialmente, ao mesmo tempo, o que não seria de todo mau não fosse o fato de que está se desaprendendo a fazer apenas uma tarefa e a ela dedicar toda atenção.

A Net está exercitando uma geração toda a ler breve e superficialmente. Em outro estudo citado, pesquisadores colocaram câmeras presas à testa de dois grupos de voluntários que deveriam ler textos impressos e digitalizados. Enquanto liam, o movimento de seus olhos era monitorado e avaliado. Observou-se que os olhos daqueles que liam páginas impressas percorriam as linhas normalmente da esquerda para a direita e voltavam ao começo da seguinte linha, enquanto que nos leitores de material digitalizado era comum perceber seus olhos movendo-se em F, ou seja, uma linha inteira, daí um salto de algumas linhas, outra linha inteira, outro salto maior, e assim por diante. Depois da experiência, testes sobre o material lido foram aplicados aos dois grupos, e qual grupo você acha que teve melhores resultados? Em todos os estudos conduzidos sempre o grupo do material impresso teve notas melhores.

Leitura online está emburrecendo (dumbing down) pessoas. Acostumando-as a ler sem prestar atenção, interpretar textos às pressas e sem reflexão. A longo prazo, essa prática solidifica um hábito e acostuma o indivíduo a estímulos rápidos e objetivos, fazendo com que toda a atenção e raciocínio demorados sejam sacrificados pela objetividade da aquisição instantânea de informação. O exercício mental que fazemos através da navegação da Web rearranja e cria novas conexões neurais alterando a maneira com que nosso processo de pensar acontece!

Porque estamos acostumados à velocidade de resposta da internet, acabamos querendo que tudo seja tão rápido quanto ela, inclusive nosso aprendizado. Com isso, desenvolvemos e exercitamos uma incapacidade de prestar atenção e se aprofundar na leitura. (Se você chegou até aqui prestando atenção e entendendo, parabéns 2x!)

Mas o que isso tudo significa? Isso significa que é provável que mais da metade das pessoas que lê meu blog não entende o que escrevo, ou por não ler as postagens por completo ou por lê-las às pressas. E se entendem, descartam seu conteúdo logo. Sei que não deve ser o caso de todos, e peço desculpa aos que são exceção, afinal, há mais de 100 seguidores ali à , e pelo menos um punhado deles deve ler, prestar atenção e lembrar do que foi lido. Pelo menos essa é a desculpa que me dou para me convencer a continuar escrevendo.

Tenho certeza de que enquanto você lê essa pequena postagem seus olhos estão flertando com links de postagens passadas, janelas de MSN que piscam e abas de Facebook que mostram que seus amigos lhe mandaram mensagens.

É triste para qualquer escritor (seja de blog, de jornais, revistas, etc.) saber que se é refém de poucos segundos de atenção e pouca capacidade de reflexão.

O diagnóstico é preocupante e difícil de traçar suas causas, mas fácil de se perceber e mais fácil ainda de se tratar: saia da porcaria da internet e vá ler livros bons. Vá ler a Bíblia numa biblioteca, debaixo de uma árvore, no parque, na varanda, deitado numa rede. Leia menos meu blog e mais a sua Bíblia. Acesso menos o Wikipédia e pesquise mais em bibliotecas. Assista a menos vídeos no YouTube – ou no GodTube – e estude mais com seus amigos. Menos máquina e mais jardim irmãos, menos máquina e mais jardim (alusão ao livro The Machine in the Garden, de Leo Marx)  

Guilherme Adriano





Comentários

João disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Vanessa de Paula disse…
Não pare de escrever, por favor! rs
Uma correção "há mais de 100 seguidores ali à , e pelo menos um punhado deles deve ler"...Acho que faltou a palavra "direita".
Obrigado pela correção!
Isso é o que acontece quando se tenta digitar na velocidade de que se fala...
Day disse…
Faço do pedido da Van o meu!