Viver da música ou ser um rockstar?

Geralmente quando falo sobre música ofendo alguns, mas não posso calar minha consciência em prol da paz.

A pergunta que me fizeram no formspring foi “Como um músico/autor que canta/escreve músicas/livros para/sobre Deus deve sobreviver?”, achei ótima a pergunta, eis a resposta:

Não vejo problema nenhum com autores, afinal, livros são os melhores professores –e digo isso por ser professor. Se um autor cristão vive da venda de livros, pelo menos espero que sejam bons livros.

A questão da música já é diferente. Então, um cristão deveria viver da música? Ora, depende do que queremos dizer com “viver”. Se viver da música é promover sua imagem através de revistas, entrevistas, capas de CDs, internet, vídeo clipes, então não, afinal, a imagem de quem estamos tentando divulgar? 

Se viver da música é tocar em shows lotados, com luzes, fumaça, explosões e uma plateia histérica querendo uma foto e um autógrafo, gritando "lindo lindo", enquanto a banda joga palhetas, flores, camisetas e pertences para os fãs - aliás, fãs? Cristão tem fãs? -, então não viva da música, vá trabalhar em outra coisa.

Se para ganhar o seu pão o músico quiser supervalorizar, ou permitir a supervalorização de, seu trabalho cobrando horrores para entrada de shows, cachês e venda de CDs, fazendo com que a música, que é uma forma de entretenimento, custe o equivalente a duas semanas de pão e leite, então toque de graça e ganhe seu pão de outra forma.

Se para viver da música ele precisar se prostituir na Sodoma e Gomorra que é o mundo da música, aceitando expor-se em programas de televisão cujos apresentadores não fazem nada além de encher seu ego enquanto tocam para uma plateia de idólatras e cantam "louvores" à frente de mulheres seminuas que têm como único objetivo atrair audiência masculina fazendo uso de sua genitália, então que viva de outra coisa.

Se trabalhar significar agir como um idiota de cima de um palco, batendo cabeça, fazendo caretas, poses, bicos, dando olhares e piscadelas, engatinhando, mandando beijinhos para câmera e desfilando, então arranje outro trabalho onde, nele, você possa agir como um adulto. Lembro-me, quando estava em bandas -estive em duas de rock pesado- muito bem do porquê de se fazer tudo isso, e creia-me, não é para promover Deus nem voltar os olhos do povo a Cristo nem falar do Evangelho, é vaidade de gente coitada; é apenas uma maneira de realizar seus sonhos de pré-adolescente e, finalmente, ser o centro das atenções.
  
Somente concordarei com o músico que viver da música, e não se promover e se endeusar com ela. No reino de Deus a necessidade vem primeiro, portanto, se continuarmos dando tanta importância à música e à diversão e prestar tão pouca atenção à necessidade do próximo, sugiro que paremos de comprar CDs, DVDs, ir a shows, etc., para assim, falir o mundo da música e salvar a alma dos músicos da glória e do prestígio que tanto os aflige com louvores.

Mas essa não é uma crítica que tenho apenas contra o mundo dos músicos, mas toda indústria do entretenimento. Há livros bons de história e sociologia que contam como se deu, ao longo do século XX, essa obsessão pela diversão e a sua supervalorização. Tal questão de se viver da música, assim como de outras formas de lazer, filmes, teatro, dança, etc., levantam questões mais profundas: deveríamos, como cristãos, aceitar essa supervalorização do prazer, contribuindo com, e patrocinando o estilo de vida de luxo de alguns indivíduos que não fazem nada mais do que se divertir, e com isso, em poucas horas, ganhar até o dobro do salário de um trabalhador de chão de fábrica?

Outros exemplos: Futebol, deveria ser uma profissão? Deveria ser tão bem remunerado? Esportistas deveriam ser tão admirados? Afinal, o que há de tão glorioso em chutar uma bola para dentro de um gol? Atuar deveria ser uma profissão? O que atores têm que os fazem ganhar tanto dinheiro? Por que um ator deveria ganhar mais do que um pedreiro? De onde vem seu prestígio e importância? Afinal, quem exerce uma função mais essencial, o ator ou o pedreiro, carteiro, cozinheiro, lixeiro, etc.? Um esportista se esforça e se dedica para ganhar uma competição, e daí? O que há de importante em ganhar uma competição? Como isso muda a vida de alguém? O policial também não se esforça e pratica muito? Um professor também não dá sua vida pelo ensino? Então por que atores, esportistas, músicos e dançarinos ganham absurdos de dinheiro enquanto aqueles indivíduos que fazem a vida acontecer ganham tão pouco?

Perguntas que não se calam dentro de mim. Se o Evangelho de Jesus não causar essas inquietações no coração de todo cristão, então, provavelmente, não deve ser o Evangelho, porque esse é centrado na vida e na necessidade, a diversão, se possível, vem depois. Não consigo conceber a ideia de um cristão viver como um rockstar. Cristo disse que “aquilo que é exaltado entre os homens é abominável para Deus”, e o que seria mais exaltado entre os homens do que a fama e o prestígio? 

Guilherme Adriano

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Assistam:

O que a Madre Teresa foi em termos de caridade e exemplo de amor sacrificial, Keith Green foi para o músico, em termos de letra e vida. Ele usou a música da maneira que deveria ser usada, para o louvor de Deus edificação e prazer. Ele soube fazer shows sem que fossem shows. Ele escreveu letras que até hoje soam como tratados teológicos e salmos. Ele viveu a vida cristã através de seu talento, e não usou-o para ser famoso, como a maioria esmagadora dos artistas faz. Ele tinha conteúdo, habilidade, espiritualidade e muita seriedade.

Quem viveu da música verdadeiramente foi ele:





Comentários

ilton Alencar disse…
Perfeito, Adriano! Como músico (que cantava MPB na noite e vez em quando ainda canto em alguns eventos, mas tenho me dedicado mais à música gospel) penso muito semelhante a vc. Tomei uma decisão: já estou gravando meu 1º CD, algo bem caseiro, voz e violão. QUando o fizer, não venderei, mas o disponibilizarei em meu site, free. Quem quiser me abençoar com alguma oferta, que o faça. Deus me livre dos chicotes de Cristo, à porta dos templos, me acusando de vendilhão. Deus te abençoe.