Vivemos no problema.

Aprendi uma parábola...
Um fiscal da alfândega observa um caminhão aproximar-se da fronteira. Desconfiado, manda o motorista descer e revista o veículo. Retira painéis, para-choques e cubos de roda mas não encontra nem fiapo de contrabando, e assim, ainda desconfiado mas sem saber onde procurar mais, manda o motorista embora. Na semana seguinte, o mesmo motorista aparece. Novamente o fiscal revista tudo e, novamente, não encontra nada ilícito. Os anos passam, o fiscal experimenta revistar o próprio motorista, tenta raio X, sonar, tudo em que consegue pensar, e toda semana o mesmo homem vem, mas nenhuma carga misteriosa jamais aparece e, todas as vezes, relutante, o fiscal manda o homem embora. Finalmente, depois de muitos anos, o fiscal vai se aposentar. O motorista chega. – Sei que você é contrabandista – diz o fiscal. Nem adianta negar. Mas não consigo imaginar o que você contrabandeou esses anos todos. Estou quase me aposentando. Juro que não vou prejudicar você. Por favor, me conte o que é que você está contrabandeando. – Caminhões – diz o motorista. 

Assim como nessa parábola, cometemos o mesmo erro quando tentamos entender problemas e achar soluções para a sociedade partindo do princípio de que ela está mau. Não. A sociedade não está mau, ela é má! Ela não está doente, ela é a doença. Não falo de uma maneira política, mas espiritual (ou seja, da perspectiva de Jesus). Perceba que Jesus não expunha problemas de sistema e sociedade, e sim de indivíduos, pois de acordo com Ele, o problema da sociedade não é seus costumes nem valores, mas sim seus indivíduos, pois é dali – do coração de cada um – que provêm todos os males que nos afligem.

Lembro-me de que há um bom tempo atrás, quando estava passando o fim de semana na praia com amigos, li um artigo em uma dessas revistas que dá dicas de como melhorar o relacionamento, e a dica da especialista era: quando estiver na cama com ele, imagine-se com outros, isso deixará a relação mais quente; mas claro, não conte a ele. E, claro, tudo dito em nome das ciências e escrito com frases que começavam com “estudos comprovam que...”. Aliás, aprendi, depois de muitos debates, que qualquer coisa que eu disser ou escrever depois das frases “estudos comprovaram que...” ou “a ciência provou que...” será acreditada sem o menor ceticismo. Também li que na Scientific American de 2009, foi dito o seguinte: “xingamentos podem lhe fazer bem, um estudo demonstra. Pela primeira vez, psicólogos descobriram que xingamentos podem servir como um método eficaz para aliviar a dor. Richard Stephens [...] diz: Eu aconselharia pessoas que se machucam a xingar.” Também me recordo de uma revista Caras que lia, onde a reportagem encorajava pais a não reprimir a rebeldia de seus filhos, e, ao invés, dar lugar para que floresça, pois “foi comprovado que ser rebelde é saudável para o jovem.” Veja só, ter pensamentos de adultério, xingar e ser rebelde são coisas boas (e não discuta, foi comprovado!)

Não sendo isso o bastante, nesse sábado agora, quando estava andando pela cidade, vi um outdoor que dizia assim: “Dia dos namorados está chegando, consulte nossos cursos de sensualidade no mês de maio! Mostre a mulher sensual e moderna que você é. Aulas semanais de Pole Dance Sensual” ( aulas cuja versão gospel já existe) O que seria isso senão uma escola de prostituta? Nós (sociedade) elevamos a prostituta acima da mãe, disse Peter Kreeft, ou seja, dá-se mais valor à vulgaridade do que ao recato e à modéstia. Vemos essa mensagem sendo pregada pela moda – através das roupas, outdoors e propagandas –, pelo mundo da  música – através de vídeo clipes e canções –,  e pelo cinema a crianças e jovens, seus filhos estão sendo sistematicamente treinados a adotarem uma má conduta como conduta padrão. E o que vocês, Igreja, estão fazendo diante disso? (Espero que alguma coisa)

“Mostre a mulher moderna que você é”, dizia a propaganda. De acordo com o anúncio, ser moderna é ser promíscua; é seduzir como uma stripper. Para o mundo, a sexualidade é a única opção válida no processo de sedução. Tenho pena da mulher que só sabe seduzir com o corpo. E digo mais: mulheres, se algum homem demonstrar interesse por você sem conhecê-la, desculpe-me a franqueza, mas não é em você que ele está interessado, e sim em seus órgãos genitais.   

Então o que aprendo com o mundo? Que fantasiar o adultério auxilia a fidelidade, que estimular a lascívia contribui à paixão, que o xingamento alivia a dor, que a rebeldia é saudável e construtiva, que ser moderno é ser promíscuo e que ter uma mente aberta é ter a mentalidade de uma vagabunda. E tudo em nome da ciência! (Palmas para essa gente!). Basicamente, hoje em dia não há pecado para o qual não haja um professor, doutor ou pensador em algum lugar do mundo que possa justificá-lo.

De acordo com as Escrituras Sagradas, o inimigo de nossas almas, o diabo, trabalha para contradizer a palavra de Deus. Cristo diz que não deveríamos ter pensamentos impuros; o mundo aconselha que tenhamos. Cristo diz que por cada palavra seremos julgados e, então, não deveríamos pronunciar palavras torpes nem xingamento algum, pois quem o fizesse já seria digno do inferno; já o mundo diz que xingar faz bem. Aprendemos com a Bíblia que a rebeldia leva à destruição, enquanto que o mundo diz que ela é saudável. A Bíblia também ensina que a mulher virtuosa é mais preciosa do que joias, já o mundo diz que isso é tolice, e que mulher boa é mulher sedutora. Bom, um dos dois está errado! Jesus e o mundo não podem estar certos ao mesmo tempo. Um deles está mentindo muito. Com quem você vai decidir concordar?

Até pouco tempo cria que a sociedade poderia ser concertada pelo Evangelho, hoje já não creio mais, exatamente por não crer mais que o problema está na sociedade, mas que é a sociedade. Não se pode concertar algo que nunca funcionou. A sociedade, de uma maneira geral, nunca deu certo. Já a Igreja sim. A Igreja deveria ser (e espero que ainda seja para vocês) essa sociedade alternativa cujo objetivo é viver a vida como Deus a planejou. Na cidade dos homens – para citar um exemplo da obra Cidade de Deus, de Agostinho – o centro da vida e seu objetivo é a autossatisfação, enquanto que na cidade de Deus o centro é Ele mesmo e o objetivo é a comunhão. A cidade dos homens é fundada pelo orgulho, a de Deus pela compaixão. A cidade dos homens funciona à base da exploração, a de Deus à base do sacrifício. Então, emprestando esses termos da obra de Agostinho, digo o mesmo a respeito da sociedade moderna (que na verdade é a mesma de sempre, e de moderna só tem a roupa e a tecnologia): na sociedade dos homens tudo gira em torno da vontade do homem, ela é egocêntrica, na sociedade de Deus (a Igreja) tudo gira em torno da vontade de Deus, ela é Cristocêntrica. Na sociedade dos homens o prazer fala mais alto que a virtude e a vontade vem antes da necessidade. Para a sociedade dos homens, Deus está morto. Para a Igreja, o homem está morto. O objetivo de vida de uma é acumular e gozar, enquanto da outra é relacionar-se e sacrificar-se em amor. Uma entroniza carne, a outra espírito. Uma incentiva o vício, a outra a virtude.

Então como cristão, não quero melhorar a sociedade em que vivo, quero fundar uma nova sociedade dentro da que vivo. Não quero influenciar o reino do mundo, quero implantar o reino de Deus nesse mundo, até que um tome conta do outro. Não estamos aqui para melhorar o mundo, e sim para prepará-lo para um mundo novo. Haverá novos céus e nova terra, nosso trabalho é anunciá-los. Jesus não veio concertar o sistema nem implantar novos valores à sociedade, Ele veio fundar um novo sistema, um novo reino, onde Ele é o rei, onde a Sua vontade é feita. Novo rei, novo sistema, nova lei, nova mentalidade, nova natureza, novo mundo, novo Deus. Este está corrompido, perdido e condenado, não há o que fazer para melhorá-lo; ele pertence ao maligno. Deus está tirando pessoas desse reino das trevas e os plantando no reino da luz de Seu Filho.  

Ser gente do jeito que aprendemos com o mundo é ser, aos olhos de Deus, um demônio. Ser realmente humano é ser como Jesus de Nazaré. Pois como diz Ariovaldo Ramos, Jesus é como Deus é e como o ser humano deveria ser. Viver em sociedade como aprendemos com o mundo é, aos olhos de Deus, viver a desunião, cultuar o ódio, gozar da desgraça e destruir-se com vícios e futilidades.  

Enquanto sociólogos, pensadores e moralistas vasculham o caminhão para encontrar algo de errado escondido, os cristãos estão há séculos gritando, “não está no caminhão, é o caminhão”.

Não quero ser uma pessoa melhor nem viver numa sociedade melhor, quero ser uma pessoa nova e viver numa sociedade nova, e esta é a proposta do Evangelho de Jesus Cristo, revolução e não reforma.

Guilherme Adriano
 


Comentários

Anônimo disse…
http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=13613

ass. don
Pois é fiquei sabendo! Mas Jesus disse que a hora e o dia ninguém sabe senão o Pai. Muitos já tentaram marcar data para o fim do mundo.

Obrigado pela colaboraçõa Don!