Pena de morte, sim ou não?


[Resposta à pergunta da Jacke]
Terremotos, tsunamis e vulcões não me assustam tanto quanto a vontade do homem. Desastres naturais matam rápido, e por serem desastres, suas vítimas não são assassinadas por maldade e sim mortas por acidente. É chocante saber que tantas milhares de pessoas morreram no terremoto do Japão, porém é revoltante saber de um estupro seguido de morte. Acho que conseguiria superar a dor e viver bem mesmo depois de perder minha esposa para uma catástrofe natural, mas dificilmente arranjaria forças para continuar vivendo depois de perder ela para um assassino estuprador. A natureza é viva, mas não consciente, portanto suas vítimas são acidentais. Já seres humanos possuem consciência e vontade, e quando fazem a maldade a fazem porque desejam-na. Isso assusta. Há pessoas que desejam machucar outras pessoas; que o seu prazer está no sofrimento alheio. A pergunta agora é: e o que fazer com gente assim, que deseja o mal? Deus diz “dar a oportunidade do arrependimento e amar”. Mas e aquelas que não querem se arrepender e não desejam ser restauradas, que fazemos com elas? Essa é a questão que me levou a mudar de ideia sobre a pena de morte.
Não me alegro de ser a favor dela, pelo contrário, me entristeço profundamente que esta é a única opção em alguns casos. Não tenho orgulho de pensar assim, mas num mundo caído, fazer o que? Existem pessoas que desejam, patrocinam, incentivam, praticam, cultuam a maldade e não estão dispostas a mudar de atitude. A maldade que vimos fluindo do coração humano durante a segunda guerra mundial da parte dos nazistas é algo indelével. Os campos de concentração e os escritos nazistas são uma amostra de até onde a vontade má do homem pode chegar. Os seres humanos são capazes de tudo aquilo, e mais. Richard Wurmbrand conta em um dos seus livros, que quando foi preso, antes de torturá-lo, seu torturador disse: “Eu agradeço a Deus, em quem não acredito, que vivi até esse momento em que posso expressar todo a maldade do meu coração em você”. Diante desse retrato de onde a condição humana pode chegar digo: é melhor que haja pena de morte.
Há pessoas que vivem para fazer o mal e não estão dispostas a abandoná-lo. O que deveríamos fazer com elas? Dar a outra face? Nunca. Deixá-las vagando livremente em meio a nossas famílias? Jamais! Jogá-las na cadeia? Lá o seu estado só piora. Cadeia deveria ser lugar de confinamento e retratação, e não escola de bandido, como se diz na mídia. Por isso digo que há casos que só a pena de morte resolve. Quais são esses casos não sei, mas certamente se procurasse começaria a achar. Digamos hipoteticamente que um ditador tirano depois de cometer genocídio tivesse sido capturado, e que uma vez julgado e preso, fosse, por ser rico, encarcerado numa prisão de luxo onde passaria o resto de sua vida às custas de algum governo. Digamos que esse ditador não se arrependa do que tenha feito, e que se puder cometer mais crimes cometerá. E então: Injeção letal, forca, cadeira elétrica, guilhotina ou prisão perpétua? Acaba-se com, ou se alimenta o problema?
Meus tios costumavam dizer “se houvesse pena de morte no Brasil, bandido pensava duas vezes antes de cometer crime e político pensava duas vezes antes de roubar”. Por mais clichê que isso possa soar, é verdade. A impunidade incentiva o crime. E não venha você agora tentando rebater a punição justa e que assegura o bem da sociedade com ensinos do sermão do monte. Como argumentei sobre isso extensivamente no texto “devemos perdoar os que não se arrependem?”, lá, Jesus não estava instituindo lei para o estado e sim lei para o indivíduo. O estado deveria continuar sendo regido com leis e punições que protegessem o bem estar coletivo. Lembremos que Jesus concordava com tudo o que estava escrito no Antigo Testamento, até as penas de morte. Quando a punição é necessária para assegurar o bem de uma população, ela, infelizmente, deve ser aplicada. Não há outra saída. Pelo menos não num mundo caído. Há pessoas que rejeitam o amor e o perdão. Então o que resta para elas se não justiça e morte?
O que vocês acham que os países aliados deveriam ter feito na segunda guerra mundial, ter dado a outra face ao nazismo? Não mesmo. O pastor e teólogo luterano alemão Dietrich Bonhoeffer foi enforcado pelos nazistas por participar de uma conspiração para matar Hitler. Será que ele estava errado ao dizer que “não matar um homem assim [como Hitler] seria um pecado de omissão”? Santo Agostinho argumentava que a guerra, quando tem como objetivo refrear um mal maior, é justificada. E nisso estava certo. O Antigo Testamento está repleto de guerras, muitas das quais Deus mesmo mandou fazer e Jesus estava de pleno acordo com elas. Não creio que Jesus era pacifista. Da mesma maneira, se a pena de morte servir para refrear um mal maior, então ela se justifica.
A pena de morte é, ironicamente, a morte em favor da vida.
Claro, antes de aplicá-la, todos os esforços para restaurar e reintegrar o indivíduo deveriam ser feitos; o amor pela vida deveria ser aquilo que nos guia, e o perdão do Evangelho deveria ser a ferramenta restauradora, a morte sempre deveria ser a última instância. Mas a história e as manchetes têm nos mostrado que há indivíduos que se entregam à maldade de seus corações de maneira tal que não há nada mais, além da morte, que os faz parar.
A pena de morte não é algo assim tão horroroso nem desumano quando entendida direto, aliás, existem relatos de muitos assassinos que se convertem no corredor da morte.
Creio que se eliminarmos essa alternativa de punição estaremos incentivando a maldade por pregar a impunidade. Por isso, Jacke, sou a favor da pena de morte.
Guilherme Adriano

Comentários

Unknown disse…
Nossa muito Obrigado por responder,esse é um dos assuntos que no meio evangélico é acompanhado de varias polêmicas.È muito bom ser um cristão esclarecido. :)
Vanessa de Paula disse…
Bons argumentos, respeito sua opinião, mas sou completamente contra e nem me imaginaria sendo a favor da morte. Sei que é difícil alguem se arrepender justamente por estar cega... É difícil, mas é possível. Já depois de morta é indiscutivelmente impossível. Parabêns pelo blog, tem me esclarecido muitas coisas.
Obrigado pelo comentário.

Essa questão de morte ainda é um desafio para mim também. Às vezes sou a favor, outras contra. Ainda não sei. Há bons argumentos dos dois lados. Na verdade, apenas teorizo sobre esses assuntos como maneira de expandir ideias, mas se fosse me dado o poder de legislar sobre o assunto, não sei o que faria....espero que nunca tenha de me deparar com essa situação.

Sugiro que baixe este documentário:
http://filmescomlegenda.net/?s=Kevorkian

...e reflita sobre o assunto. Muito bom.