Opiniões x Convicções: como lidar com a divergência


[Jacke, não esqueci da sua pergunta sobre pena de morte, apenas tenho outras ideias na frente]
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Aprendi que há uma diferença fundamental entre opinião e convicção, e que não podemos dar o mesmo peso e fervor de uma convicção a uma opinião. Então diria assim, que a opinião é um adorno (ou deformidade) da personalidade, enquanto a convicção é a decisão de ser a partir da qual a personalidade é, a princípio, formada, e com o tempo, reformada. Uma convicção é aquilo sobre a qual as opiniões se apoiam; é a base de toda opinião.
Se o ser fosse uma casa, então a opinião seria sua decoração: cores, arranjos, etc., já a convicção seria seu fundamento. Veja que pode-se pintar a casa de diferentes cores todos os anos e mudar toda a decoração sem grandes complicações, mas para mexer no fundamento é preciso derrubar a casa.
Opiniões mudam com reformas, convicções mudam com revoluções. Pelo que tenho lido nas Escrituras, Jesus não faz pessoas mudarem de opinião, mas sim de convicção. O Evangelho não muda apenas uma área do ser, mas transforma o ser todo.
Segundo Ele, “não se põe vinho novo em odres velhos, mas vinho novo em odres novos”, então aprendo que, da mesma forma, não se põe opiniões novas sobre convicções velhas, mas opiniões novas em convicções novas. Primeiro se revoluciona o ser para então dar-lhe novas opiniões. Em termos cristãos, primeiro se nasce de novo, e então se adquire a mente de Cristo (conduta e expectativas).
Também lemos que “não se remanda roupa velha com pano novo, pois assim os dois se estragam”, outra maneira de dizer isso seria: não se constrói uma casa nova sobre alicerces velhos, pois o peso das paredes novas derrubaria a estrutura velha. Então entendo que não podemos construir uma vida cristã sobre um ser mundano.
Primero se reconstrói o ser (na conversão), e depois se reforma o ser (a partir da conversão). Essa reconstrução/revolução/novo nascimento é um processo um tanto quanto rápido e é Deus quem o opera mediante ao nosso arrependimento e entrega. Já a reforma/aquisição de uma nova mentalidade é um processo para a vida toda onde nós somos agente ativos.
Deus nos dá o novo ser e nós criamos sua personalidade. Cristo nos dá Sua fé e nós a desenvolvemos. O Espírito Santo nos dá o Seu amor e nós o praticamos. Desculpem-me os calvinistas, mas Deus não trabalha sozinho.
Os cristãos tem suas convicções em comum, já suas opiniões, nem tanto. Geralmente as pessoas pensam que todo cristão, para ser cristão, deve ter a mesma opinião sobre temas polêmicos como aborto, pena de morte, casamento, televisão, música, etc. Mas isso não é verdade. Não. Opiniões são diferentes de convicções. Opiniões cristãs (se é que podemos dizer que isso exista) são relativas e muito pessoais, já convicções cristãs são imutáveis e coletivas. Opiniões se embasam em convicções, e não o contrário. Nós cristãos sempre partilhamos das mesmas convicções, mas nem sempre das mesmas opiniões. Estamos convictos de que (1) Jesus é [pelo menos três coisas:] o Messias prometido, Filho de Deus e o Deus Filho; (1) O cordeiro que tira o pecado do mundo, (2) o Unigênito Filho de Deus, (3) e o nosso eterno Deus Bendito, o Verbo que é o nosso Senhor e Deus; a Verdade, o Caminho e a Vida, e que não se chega a Deus o Pai senão por Ele. Que não existe outro Deus senão Ele. Também partilhamos da convicção de que a Bíblia contém nossa regra de fé, e de que um dia, aqueles que o amaram, estarão com Ele para todo o Sempre. Essas são apenas algumas de nossas convicções.
Porém opiniões são várias. No campo das opiniões nos dividimos em grupos, mas nas convicções estamos todos do mesmo lado. Eu, por exemplo, detesto, tenho asco ao calvinismo. Não acho que Deus para ser soberano tenha de ser tirano. Creio ser o maior erro teológico que possa existir e o repudio por ser incoerente e indefensável, mas sei de calvinistas que são cristãos sérios. Há cristãos que são contra a guerra justa, eu porém os acho infantis de pensarem assim, contudo não deixam de ser cristãos por pensarem diferente de mim. Um teísta aberto dirá que Deus não conhece o futuro e que uma profecia é apenas um decreto de sua vontade inexorável, eu porém acho isso ridículo, e que a onisciência de Deus não é limitada ao tempo como a nossa ciência, no entanto sei de teístas abertos que são cristãos exemplares. Há quem creia que os dons cessaram, outros que ainda existem, eu, pessoalmente, não sei o que pensar. Mas nem eu, nem eles nem aqueles outros deixamos de ser cristãos por pensarmos de maneira diferente num assunto tão obscuro das Escrituras. Alguns cristãos creem em ministérios variados e contemporâneos, já eu não. Enfim, há uma variedade de opiniões dentro do campo dos cristãos. Devemos aprender a conviver com elas e respeitá-las.
Ravi Zacharias, durante uma seção de perguntas e respostas numa Universidade Americana, ao responder a pergunta “mas como lidar com as divergências do pensamento cristão?”, diz: “Ser cristão não depende de pertencer a uma denominação ou abominação, mas de compartilhar da mesma fé”. Contanto que a opinião não seja vista como regra de fé para todos, nem seja exaltada acima do fundamento lançado pelos apóstolos nem contradiga o Espírito do Evangelho, ela é válida e deve ser respeitada. Se debatida, com um propósito. Se criticada, com base bíblica. Quando rejeitada, também respeitada. Nem tudo nas Escrituras é tão claro quanto gostaríamos que fosse. Mas graças a Cristo, o essencial é. O pensamento cristão é divergente, mas não contraditório. Alguns cristãos dão a impressão de que essa divergência seja irreconciliável e contraditória pelo fato de serem afetivamente apegados a suas opiniões e por falaram delas com tanto fervor e defendê-las com tanta ferocidade e diligência. Mas não é verdade, no final do debate podemos ir para casa juntos e desfrutar de um jantar orando para o mesmo Deus, um crendo que esse Deus os salvou sem que eles pudessem escolher e o outro crendo que escolheu Deus.
Mas também o que não podemos deixar acontecer é abrir mão da verdade certa e relevada em nome da paz e do politicamente correto. Não podemos aceitar a relativização da Verdade revelada em Jesus em nome do respeito às opiniões. Podemos relativizar opiniões e interpretações pessoais do tipo “Jesus volta antes, durante ou depois da tribulação do fim dos tempos?”, mas não podemos relativizar o fato de que Jesus é o único caminho ao Deus Pai, isto está mais do que claro, enquanto aquilo outro não está.
A opinião e a interpretação estão embasadas na convicção, e que, podendo divergir, têm um ponto de partida em comum: a fé no Cristo ressurreto que é a imagem perfeita do Pai e o único caminho para redenção.
Portanto posso chamar de irmão quase todos aqueles que seguem esse blog e dizer: Não creio em algumas coisas que vocês acreditam, mas creio em quase todo o outro resto. Se você é adorador de Cristo, então temos o mesmo Pai, mesmo sendo birrentos.
Guilherme Adriano.

Comentários

Bom dia Guilherme,

Bom texto, só fiquei com algumas dúvidas, quem sabe você me ajuda.

Eu me converti pela palavra de Deus, lendo a Bíblia sozinho em minha casa após um ano de alguns colegas de trabalho falarem sutilmente de Deus pra mim, não foi a primeira vez que li a Bíblia, cresci em colégio católico e em uma família católica que tinha Bíblias e faz novenas todos os anos, mas neste dia específico, ao ler o sermão do monte senti-me aos pés daquele que se revelaria meu Senhor Jesus, sua palavra era verdade pura transformando todo meu ser, sabia que daquele dia em diante não poderia continuar vivendo da mesma forma, e que uma nova vida me aguardava, mais tarde ao ler o evangelho de João entendi que esse era o novo nascimento que Jesus falava para Nicodemus.

Fiz essa pequena introdução para deixar bem claro que não me converti em uma igreja denominacional, mas pelo próprio chamado de Deus através de sua palavra plantada em meu coração por seu Santo Espírito, passei por algumas igrejas e conheci diversas doutrinas, a princípio entendi o embate entre justificação pela fé somente e pelas obras, depois percebi a diferença quanto aos sinais e maravilhas, algumas igrejas buscavam com todo afinco estes sinais e outras sequer os mencionavam, entendi então que os primeiros eram denominados pentecostais, e os outros eram apenas chamados “frios” e “conservadores”, com o tempo passei a estudar os ventos de doutrina com mais calma, no começo dessa trajetória desenvolvi um sentimento de asco (usando de seu termo) por uma tal doutrina calvinista, tinha arrepios de ouvir uma tal de predestinação, como podiam transformar meu Deus maravilhoso em um Deus tirano!

Um belo dia, depois de muito lutar contra essa doutrina terrível, penso que Deus me despertou para um detalhe, eu estava sendo altamente preconceituoso, falando mal e atacando algo que eu nunca parei pra ter o devido conhecimento, ainda assim demorei um pouco lutando com meu preconceito para ler algum autor sério que falasse sobre a doutrina calvinista (que depois descobri ser muito mais de Agostinho e Lutero do que de Calvino). Comecei lendo o livro do famoso apologista cristão Norman Geisler “Eleitos, mas livres”. Achei o livro meio estranho, o tempo todo o autor tentava fazer uma defesa arminiana do calvinismo, ou uma defesa calvinista do arminianismo, o autor se dizia calvinista, e tentava defender a doutrina calvinista ao mesmo tempo que a atacava, por fim o livro me deixou ainda mais confuso. Resolvi ler um livro de outro famoso apologista cristão, R C Sproul, dessa vez comprei logo dois de seus livros sobre o assunto “Sola Gratia” e “Eleitos de Deus”, livros muito bem escritos, partindo de um ponto de vista mais esclarecedor sobre o assunto, me identifiquei com o autor pois ele também teve essas dúvidas, tendo atacado com todas as forças a doutrina calvinista no começo de sua vida cristã, e por fim, através de um estudo sério e bíblico, ele pôde desenvolver esses dois livros em que fala sobre essa maravilhosa doutrina da graça de Deus.

[...]
[...]

Hoje leio a Bíblia com outros olhos e sou grato a Deus por ter me mostrado que eu sou totalmente caído, depravado, destituído de qualquer vontade de buscar verdadeiramente a Deus, só mesmo a graça de Deus poderia ter transformado meu coração e minha vontade para que eu pudesse livremente e com todo o prazer declarar minha fé em meu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sem Ele eu nada poderia fazer a não ser seguir realizando livremente minha vontade caída e depravada, fazendo tudo menos buscando a Deus.

Sola Gratia
Sola Fide
Soli Deo Gloria

Não penso hoje que esta seja um doutrina calvinista, luterana ou agostiniana, mas uma doutrina Bíblica que revela o amor gracioso de Deus por um povo que merecia apenas sua santa justiça.

Escrevi isso pois fiquei na dúvida quanto você disse:

“Desculpem-me os calvinistas, mas Deus não trabalha sozinho.”
“Eu, por exemplo, detesto, tenho asco ao calvinismo. Não acho que Deus para ser soberano tenha de ser tirano. Creio ser o maior erro teológico que possa existir e o repudio por ser incoerente e indefensável.”

Não acho que a doutrina calvinista ensine que Deus trabalha sozinho, apenas que Deus transforma nossos corações para que possamos cooperar com Ele em seus mandamentos, e que sem essa transformação é impossível que nós, com nossos corações de pedra, façamos qualquer coisa para Deus. Também penso que a doutrina calvinista em momento algum apresente Deus como um tirano, mas sim como um Deus amoroso que providencia uma salvação de alto preço mediante seu amor gracioso por um povo que merecia apenas sua justiça e nada mais.

Acho que pensar e dizer isso é incorrer no mesmo preconceito que eu, R C Sproul e outros incorreram por não analisar devidamente a doutrina da graça de Deus.

Grande abraço caro irmão, que a graça e a paz de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo seja contigo hoje e sempre,
Ronaldo
Olá Irmão Ronaldo! Obrigado pelo comentário. Engraçado, tive uma conversão parecida com a sua. também andei por algumas igrejas mas acabei ficando a congregar com amigos em sua casa.

Bom, minha questão com o Calvinismo é de longo prazo. Não tenho preconceito com ele. Na verdade, no começo cria nele. Estudei ele a fundo, Agostinho, Lutero e Calvino. R.C. Sproul é calvinista, Normal Geisler não é, ele é um filósofo cristão muito arminiano. Esse debate Predestinação x livre-arbítrio é um assunto que não tem fim. Vem de muito tempo, e duvido que consigamos resolvê-lo aqui e assim. Mas, meu problema não é com a predestinação, mas com o Calvinismo. Predestinação é bíblica, e livre-arbítrio também. Como conciliar os dois tem sido um grande mistério, mas é possível. Rubens Amorese, creio, que escreveu em seu livro "MetaHistória", recomendo muito, o seguinte:

Parafraseando, "Deus, como vê presente passado e futuro num só plano, pois é eterno (ou seja, fora do tempo) predestinou cada ser humano de acordo com as respostas que cada indivíduo deu ao apelo de Seu Espírito Santo ao longo de sua vida. Quando você morrer(morreu), Deus estará(estava) lá, e a resposta que você der(deu) a Ele, foi com a qual Ele o predestinou. Assim nem livre arbítrio nem predestinação são afetadas." Muito filosófico para meu gosto, mas uma ótima resposta.

O tipo de calvinismo que você descreveu é o que os teólogos chama de "calvinismo moderado", mas esse não é o calvinismo que calvino ensinou. Ele ensinou TULIP.

Total Depravity
Unconditional election
Limited Attonement
Irresistable grace
Perseverance of the Saints

Isso é calvinismo de João Calvino. Concordo com apenas o primeiro tópico, o resto se contradiz com a bíblia e (na minha opinião) com a realidade.

Jesus não morreu por apenas uns, mas por todos. É possível resistir a graça, o Espírito Santo pode ser resistido de acordo coma a Bíblia. Uma vez salvo sempre salvo não é verdadeiro, eu quase caí. Tenho conhecidos que caíram e hoje odeiam o evangelho. Hebreus diz que é possível cair. Paulo disse "que adianta ganhar o mundo e eu ficar de fora", ele achava que podia cair; está escrito "quem está de pé que não caia".

William Lane Craig fala sobre a predestinação "Deus não predestinou indivíduos, e sim uma profissão de fé. Assim todo aquele que professá-la será salvo e incluso nos eleitos".

No antigo testamento há apenas um punhado de casos que Deus endureceu corações e escolheu para destruir, mas isso foi só depois de inúmeras tentativas de conversão da pessoa.

Calvino ensinou TULIP, e para cada letra, exceto T, há um versículo chave que vai contra. Nas outras versões do calvinismo, até concordo, mas com a de Calvino não.

[...]
[...]

Também não sou muito fã de Calvino pelos seus feitos. Seu gênio teológico era incomparável, porém me incomoda o fato de ele ter mandado prender e matar cristãos que pensassem diferente. Há um livro chamado "a página negra do cristianismo" onde lá o autor relata os feitos de Calvino.

As maiores questões levantadas contra o clvinismo ainda não foram respondidas:

Se eleitos incondicionalmente, por que se arrepender?
Se não podemos cair, por que não aproveitar dos prazeres do pecado? Deus acabará nos salvando!
Se Deus salvará todos os eleitos indiferente de nossas escolhas, por que pregar?

Está escrito na Bíblia:
1- Deus quer salvar todos.

Calvinismo diz:
2- Deus pode salvar até mesmo contra nossa vontade.

Qual é a conclusão dessas duas premissas?

logo, Deus salvará todos. Se Ele quer salvar todos, e pode salvar até contra nossa vontade, então Ele salvará todos. E isso não é verdade, sabemos que muitos irão para o inferno.

Num estão os canvinistas dizendo que tudo já está marcado para acontecer. Do outro estão os teístas abertos dizendo que Deus não conhece o futuro, pois ele ainda não aconteceu. No meio, estão alguns arminianos e indecisos. Acho que estou com eles.

Creio que se Deus não tivesse tocado meu coração não teria vindo a ele. Mas também sei que se não tivesse escutado a Palavra e me envergonhado dos meus pecados nunca teria ido a Ele. Eu me entreguei a Deus porque Ele me achou. E ele me achou porque eu me entreguei a Ele.

Não tenho problemas com quem crê no calvinismo, mas com quem o prega.

Gostaria de saber qual seria a reação de um calvinista se eu dissesse que seus filhos foram predestinados ao inferno, e não há nada que ele possa fazer para mudar essa situação, pois Deus assim escolheu.

Qualquer outro calvinismo que não seja TULIP, é um Neocalvinismo, uma versão mais moderada. Com esses não tenho problema, mas o calvinismo de calvino era TULIP, e contra esse falo.

Uma vez li num livro de um ateu, geralmente não cito ateus, mas esse mereceu: Um Deus que não precisa de nada e é eternamente satisfeito consigo mesmo, e que cria seres única e exclusivamente para queimá-los para sempre sem que haja chance nenhuma de salvação para eles, pode ser Deus todo poderoso, mas não é bom.

Bom irmão, resumindo, não tenho preconceito nem problemas com os neocalvinistas nem com a predestinação, mas com o TULIP e João Calvino. É possível crer em predestinação e livre-arbítrio sem cair no calvinismo.

Obs.: Todo calvinista é monergista, e monergismo significa "Deus trabalha sozinho". Até Agostinho sempre se creu no sinergismo "Deus trabalha com os homens". Os homens não participaram do processo de salvação, isso foi Deus sozinho! Mas os homens participam do processo de arrependimento e conversão, sem o qual não pode haver justiça nem condenação.

Obrigado.
Olá caro irmão Guilherme,

Que bom poder trocar essas idéias contigo, concordo que esse assunto é bem extenso e tentar tocá-lo adiante nesse espaço de comentário não é a melhor das idéias, aliás, fica bem claro pelo tamanho de nossos comentários resumidos rsrsrs.

Sua resposta me deixou curioso em mais alguns pontos, tentarei ser breve, mas a conversa está boa não pude deixar de lado. Os pontos são os seguintes:

1- "O tipo de calvinismo que você descreveu é o que os teólogos chamam de "calvinismo moderado", mas esse não é o calvinismo que calvino ensinou. Ele ensinou TULIP."

Aqui tem dois pontos na verdade, portanto vou dividir em 1.1 e 1.2

1.1. Calvinismo moderado.
A primeira vez que li esse termo foi na obra do Norman Geisler “Eleitos, mas livres”, lá ele considera os calvinistas como "calvinistas extremados" e os semi-pelagianos (e arminianos) como "calvinistas moderados", nesse sentido ele se considera um calvinista moderado. Os calvinistas não utilizam esse termo, mas utilizam o termo "hiper-calvinistas" ou seja, mais calvinistas que o próprio calvino, aí entram práticas neo-puritanas e idéias que não estão no corpo teológico da doutrina reformada, como por exemplo dizer que não é necessário evangelizar pois os salvos já estão predestinados. Minha dúvida é a fonte dessa classificação, quais teólogos classificam a doutrina reformada como calvinismo moderado.

1.2. Calvino ensinou TULIP
Embora TULIP seja de fato uma organização da doutrina reformada de Calvino, Lutero, Agostinho entre outros, esse termo foi originado no sínodo de Dort, realizado pelo menos meio século após a morte de Calvino, então de certa forma Calvino ensinou os 5 pontos, mas esse acróstico não se originou em Calvino, mas no sínodo de Dort, Calvino falou de muito mais coisas do que a tulipa, e outros autores inclusive falaram muito mais que Calvino sobre determinados pontos da tulipa (Lutero e Agostinho falaram muito mais sobre livre-arbítrio que Calvino).

2- "As maiores questões levantadas contra o calvinismo ainda não foram respondidas:

Se eleitos incondicionalmente, por que se arrepender?
Se não podemos cair, por que não aproveitar dos prazeres do pecado? Deus acabará nos salvando!
Se Deus salvará todos os eleitos indiferente de nossas escolhas, por que pregar?"

2.1. "Se eleitos incondicionalmente, por que se arrepender?" Pelo que entendi a questão é que o arrependimento é produzido por um coração transformado, uma nova criatura transformada pelo amor de Deus é a única capaz de se arrepender verdadeiramente, portanto o eleito se arrepende porque Deus vivifica seu espírito e transforma seu antigo coração de pedra que agora é capaz e desejoso de se arrepender.

2.2. "Se não podemos cair, por que não aproveitar dos prazeres do pecado? Deus acabará nos salvando!"
Uma nova criatura transformada pela graça de Deus e pela fé genuína em Cristo reconhece o pecado pois o Espírito Santo o convence do pecado e da justiça, uma nova criatura não é mais escrava do pecado, embora ainda viva no domínio do pecado, sua vida foi liberta, portanto ele é capaz de resistir ao pecado justamente porque foi salvo dele. Uma nova criatura também não mais se acomoda no pecado, e não tem o mesmo prazer no pecado, pois sua vontade e seu coração foram transformados por Deus, e agora sua liberdade não é mais dirigida por uma vontade escrava do pecado, mas por uma vontade dirigida pelo Espírito de Deus. Resumindo, uma nova criatura não aproveita dos prazeres do pecado porque tudo lhe é licito, mas nem tudo edifica, e o velho homem se foi, eis que tudo se fez novo.

[...]
[...]

2.3. "Se Deus salvará todos os eleitos indiferente de nossas escolhas, por que pregar?" Por que esse é um mandamento de Deus, e a nova criatura tem prazer em realizar os mandamentos de Deus através da vontade de seu novo coração transformado. O eleito não prega o evangelho para ganhar pontos e ser melhor do que os outros, ou para ganhar milhares de pessoas para sua glória pessoal, mas porque seu novo coração se alegra em fazer a vontade de Deus.

3. "Gostaria de saber qual seria a reação de um calvinista se eu dissesse que seus filhos foram predestinados ao inferno, e não há nada que ele possa fazer para mudar essa situação, pois Deus assim escolheu."
O problema aqui é pressupor que nossos filhos merecem ser salvos por serem nossos filhos, ninguém merece ser salvo, nem eu, nem meus pais, nem meus filhos, pois todos pecamos, e destituídos estamos da glória de Deus, nós merecemos apenas o justo juízo de Deus, se Deus não vivificasse nossas almas que estão mortas no pecado, todos nós rejeitaríamos sua oferta de salvação, e Ele não seria injusto se mandasse a todos nós por inferno, na verdade é isso que merecemos, exatamente por sermos salvos é que damos graças a Deus e sua graciosa misericórdia, afinal: "Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece." (Romanos 9.14-16)

4. "Todo calvinista é monergista, e monergismo significa "Deus trabalha sozinho"." Pelo que entendi quando li, monergismo diz respeito ao momento crucial da regeneração, os monergistas acreditam que a regeneração precede a fé, por isso a ordem é sola gratia, sola fide, a graça precede a fé, somente pela graça de Deus podemos ter fé em Jesus para sermos salvos, de outra forma nossos corações de pedra jamais teriam vontade de receber o sacrifício suficiente de Jesus nosso Senhor, é preciso que nossos corações sejam transformados e nosso espírito seja vivificado para que possamos exercer nossa liberdade de receber com amor o sacrifício de Jesus, o velho homem jamais conseguiria se inclinar para Deus, pois seu coração e sua liberdade são condicionados por sua vontade pecaminosa, o velho homem escolhe prazerosamente o pecado e não a Deus. Sinergismo inverte essa senquência, a fé precede a regeneração, portanto temos fé em Jesus para depois sermos transformados e nascidos do Espírito de Deus, dessa forma nossa salvação depende de nós, de nossa capacidade de ter fé em Jesus, de nos inclinar para Deus, embora a regeneração dependa de Deus. De qualquer forma o monergismo que eu conheço não invalida a cooperação do homem, mas para que o homem possa cooperar com Deus, ele precisar ser nascido de novo, pois "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." (João 3.6)

É, tentei me resumir, mas é mesmo muito difícil quando se trata desse assunto, espero não ter lhe chateado com um texto tão grande amado irmão Guilherme.

Que a graça, a paz e a sabedoria que vem do alto sejam sempre contigo caro irmão.

Grande abraço,
Ronaldo
Olá irmão.

Então, como mesmo discutimos, o calvinismo tem várias versões, como já havia dito. Mas esse fato sozinho já motivo de duvidar dele. Se fosse algo biblicamente a maioria entenderia e se alegraria em descobri-lo. Mas a realidade é que a maioria dos cristãos, ou não conhece o calvinismo, ou quando o conhece, se revolta. Os apologistas modernos e os pensadores do século 19-20 eram contra calvinismo. Quase toda a filosofia é. Se fosse algo tão claro é tão certo, creio que os cristãos o receberiam de braços abertos.

“Se eleitos incondicionalmente....por que se arrepender”
Mesmo que digamos que o arrependimento seja gerado por Deus, isso é uma escapatória teológica para a problemática em foco. A resposta explica. Sim. Digamos que Deus nos dá o arrependimento, isso ainda faz Deus escolher certas pessoas e outras não. E essa é a maior questão. Deus é justo ao fazer isso? É claro que é! Mas Ele é bom ao fazer isso? Não. Não é uma questão de justiça. Ele sempre estará Justo no que fizer, mas se Ele escolhe sem dar a chance sequer de arrependimento, então o Ateu acertou: Ele é justo, todo poderoso, mas não é bom.

“Podemos cair?”
Hebreus diz que aquele que já experimentou da graça, que era salvo, e cai, não pode mais ser restaurado. Mesmo sendo regenerado, mesmo sendo nova criatura, mesmo sendo novo homem, pode cair, não há versículo nas escrituras que dizem que não possa. “Quem está de pé que não caia”, “Quem cair não pode mais ser salvo” e “do que me adianta depois de ter levado muitos ao reino, eu mesmo ficar de fora?”. Paulo, Jesus e o escritor de Hebreus disseram que é possível cair mesmo sendo regenerado, provado da graça, estado de pé, sito iluminado e sendo habitado pelo Espírito Santo. Nunca a Igreja, antes da reforma e nos primeiros séculos ensinou que não se podia cair.

“Por que pregar?” Um teólogo deu a mesma resposta: Porque Deus mandou. Sim. Ele mandou. Mas isso não explica a questão da necessidade. De fato, não é preciso, é isso que está dizendo quem responde “porque Deus mandou”; não é preciso porque haja necessidade, mas porque é mandamento. Isso contradiz o mandamento da tutoria, discipulado e “ensinar nos passos”.

"Se eu dissesse a um calvinista que seus filhos não fossem salvos”. Esse não é um problema teológico que tem foco de falsificar a eleição incondicional, mas é um problema moral e emocional que põe em cheque a moralidade de um ser que fizesse isso com criaturas que não tiveram outra opção senão pecar. Nossos filhos não merecem ser salvos por serem nossos filhos, mas nenhum calvinista conseguiria continuar crendo no calvinismo se soubesse, de fato, que Deus escolhera seus filhos para queimar para sempre. Seria um peso grande demais para aguentar. Isso não faria o calvinismo falso, apenas faria o calvinista desistir do calvinismo ou de seus filhos.

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Monergismo e Sinergismo, cremos, pelo que entendi, na mesma coisa. Apenas quero focar que muitos calvinistas extrapolam o monergismo para dizer que não só a salvação pertence ao Senhor (o que é verdade) mas que o arrependimento pelos nossos pecados também.
No coração de todo calvinismo está Calvino com seu passado ainda que é questionável, e TULIP, que, como já disse, cada letra é contraditória.
Pelo que percebo, nossa diferença aqui é um pouco mais teológica do que concreta: Regeneração e fé. Se Deus regenera antes da fé, então Ele escolhe, e a eleição é incondicional. Não participamos de nada e exemplos como o do pai calvinista e dos filhos condenados pode ser verdadeiro, e ao mesmo tempo, se fosse, heartbreaking e insuportável. Jesus disse que o Espírito Santo nos convence do juízo, pecado e justiça. Convencer não é obrigar. Nesse sentido, repito, Deus não trabalha sozinho. Deus trabalhou sozinho, e muito, mas agora Ele trabalha conosco.
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Bom caro amigo....
Como podes ver, tenho muitos argumentos contra os reformadores e alguns pontos da teologia reformada. Calvino, Lutero, entre outros, hoje são os ídolos dos teólogos modernos. A simplicidade do Evangelho foi-se embora, livros como Tiago e Hebreus são evitados por conter material que entra em conflito com muito da teologia reformada. Muitos teólogos elegeram Paulo o único intérprete fidedigno de Jesus e os reformadores como seus únicos fiéis expositores. O que esquecem é do fato de que eram homens. Calvino mandou matar e prender por razões absurdas. Houve inquisição calvinista. Lutero mandou perseguir os Judeus e exilá-los, atear fogo em seus pertences e saqueá-los. Os reformadores vieram com a teologia de substituição, agora a Igreja substituiu Israel; Israel foi rejeitada por Deus, mas para isso ser verdade o antigo testamento todo tem que estar errado. - Toda teologia que vai muito longe das raízes judaicas da fé cai em banho de sangue e absurdos teológicos. E nenhum judeu cria, nem crê, em eleição incondicional. Aliás, há um livro todo sobre Romanos 8,9,10 que trata dessa questão e demonstra como Paulo lá falava de nações e não indivíduos e também apresenta as diferentes traduções calvinistas ao longo do tempo que foram reformulando o sentido da passagem. - Agostinho cria que o casamento era terrível e que o pecado se transmitia pelo sêmen. Alguns dos pais da Igreja, já no segundo e terceiro século, eram mariólatras. Foram homens muito inteligentes e fizeram grandes coisas, mas também fizeram coisas terríveis. A autoridade outorgada pela cristandade a esses pensadores e reformadores é grande demais. Predestinação incondicional foi apenas uma ideia, uma interpretação de três ou quatro homens ao longo da história. Não é doutrina fundamental do cristianismo ortodoxo. As suas implicações morais são grandes demais. No final de toda eleição incondicional Deus é o culpado por pecarmos, ou porque Ele quis ou porque Ele não nos deu outra chance.

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Para mim o calvinismo é a prova de que cristão também pode errar, e feio. Ele é uma doutrina desnecessária que só causou controvérsia, asco e indignação. Li muito material ateu já, e todos eles tem algo em comum: Nenhum tem um real argumento contra Jesus e seu evangelho, mas sim contra o deus calvinista, os feitos da Igreja católica e seus dogmas pagãos, a irracionalidade dos pentecostais e os abusos e deslizes da Igreja ao longo dos séculos. É que para um cristão acostumado com uma teologia calvinista não há problema em crer que de fato as coisas são assim, mas quando se começa a desdobrar as implicações da eleição incondicional, expiação limitada e exclusiva, etc., começa-se a se achar algo errado.
Por mais que alguns teólogos tentem disfarçar o maquiar o calvinismo como erudito e bom, suas implicações são emocionalmente insuportáveis, biblicamente conflitantes, logicamente desconfortável e moralmente perverso. “O rei da Justiça não faria justiça?”. Por isso irmão, não tenho preconceito contra o calvinismo, é que realmente não consigo crer que ele seja verdadeiro pelas suas implicações morais, e não de justiça.

Afinal, irmão, você é calvinista?
Amado irmão Guilherme,

Entendi seus questionamentos, e já lutei bastante com os mesmos, mas hoje percebo um brilho de louvor na glória de Deus revelado na Biblia que me humilha ao mesmo tempo que exalta meu Senhor, meu Rei e meu Deus. Hoje entendo um pouco sobre a diferença entre contradições, paradoxos e mistérios, que eu posso meu dobrar humildemente diante da minha incapacidade de conhecer os mistérios de Deus, e por isso mesmo sei que eu nada poderia ter feito e nada tenho de bom para poder questionar bondade ou justiça de Deus, como questionou nosso Senhor Jesus ao jovem rico, "quem é bom?", ou o que sabemos sobre o que é bom? Bom somente Deus, sábio somente Deus, justo somente Deus, todos pecamos, todos tivemos nossas oportunidades de arrependimento, todos jogamos tudo isso fora e demos um tapa na cara de nosso Deus, fizemos isso em Adão, e continuamos a fazer isso ao longo de toda a história, e Ele nos ensinou e nos deu o exemplo de dar a outra face, Ele teve e tem misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, por que na verdade não merecemos sua misericórdia, merecemos apenas sua justiça, nosso livre-arbítrio nos levou somente ao pecado, jamais à Deus, mas Ele, em seu grande amor e misericórdia teve misericórdia de quem Ele quis ter misericórdia, doutra forma iríamos todos para a condenação justa pelo uso de nosso livre-arbítrio.

Hoje não mais desejo livre-arbítrio, mas desejo um coração transformado por Deus, e assim será quando vier o que é perfeito, então conhecerei como sou conhecido, e o meu coração jamais desejará livremente o pecado, pois ele será eliminado com sua raça de assassinos e destruidores, restando apenas a boa e agradável vontade de Deus em meu coração.

Hoje reconheço a sabedoria do mundo, pois os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, mas meu coração anseia pela loucura da cruz, e isso não vem de mim, é dom de Deus para que eu não me glorie em mim mesmo.

Hoje eu espero no meu amado, minha esperança está no braço forte de Deus e no amor de meu Senhor Jesus, meu bom Pastor, que guarda as ovelhas que o Pai lhe deu, que deu sua vida e pagou um alto preço pelos que escolheu e amou antes da fundação do mundo, me prometeu jamais me abandonar, intercede por mim, roga por minha vida, começou e irá terminar sua boa obra, pois depende dEle, é por Ele e para Ele, para o louvor da sua incomparável glória.

Creio em tudo isso não por ser uma doutrina de homens, mas por encontrar tudo isso revelado na Bíblia, antes de Sproul, foram Packer, Schaeffer, Van Til, Hodge, Edwards, antes de Calvino foram Lutero, Aquino, Agostinho, antes de Agostinho foram Paulo, João, Pedro, antes deles foram os profetas, antes dos profetas foi Jó, antes de Jó e antes da fundação do mundo foi Deus Pai, Filho e Espírito Santo, creio por que aceito minha depravação total e irreparável, minha morte espiritual, minha total e completa dependência de Deus, minha inabilidade para compreender seus mistérios, sua bondade, sua justiça, sua misericórdia, seu amor.

Meu querido e amado irmão no sangue e na adoção em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo de Nazaré, se isso for ser calvinista, então provavelmente devo me enquadrar nessa classificação rsrsrs. Contudo prefiro me considerar um pecador carente da graça de Deus, um servo desejoso de servir adequadamente meu Senhor, uma ovelha dependente de seu Bom Pastor, um morto que foi ressuscitado e nasceu de novo mediante o sangue sacrificado do cordeiro sem máculas de Deus.

Por tudo isso, a honra e a glória sejam única e exclusivamente do Reis dos Reis, Senhor dos Senhores, Deus todo poderoso, Pai das Luzes, Príncipe da Paz, a Ele que tudo criou seja sempre o louvor! Amém!

Soli Deo Gloria

A graça e a paz de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo seja sempre contigo meu amado irmão.
Caro irmão Guilherme,

Li a conversa entre você e o irmão Ronaldo. Muito enriquecedora, por sinal. Demonstraram grande conhecimento, o que é edificante para vocês e, certamente, para quem os lê.

Queria te fazer um questionamento talvez muito "ingênuo" (não sei se seria este o termo), porém, encare-o, peço, com sinceridade de coração. Vi que em algum momento no início do debate, o irmão colocou que tanto a predestinação como o livre-arbítrio são bíblicos. Espero não estar enganado no que entendi. E a pergunta seria: onde o irmão encontra argumento bíblico para o livre-arbítrio?

Grande abraço!
Em Cristo,

Alexandre Paes
Anônimo disse…
Amado Guilherme,
Por um pouco de seu raciocino, percebo que você deseja que as pessoas possam exercer a sua fé de forma diversa (no fundo do coração, cada pessoa crê em coisas diferentes). Uma igreja impor uma confissão de fé enorme (como fazem os presbiterianos e católicos) para que a pessoa seja membro é um absurdo!
No fundo do coração, uma pessoa poderá acreditar 70% ou 80% daquela lista enorme de doutrinas.
Acredito que uma igreja deveria fixar um conjunto reduzido de doutrinas em sua confissão de fé; e, deixar cada um ter o seu próprio aprendizado em suas experiências com Deus.
Sabe o que é isto? É um pouco do que se chama de "Movimento da Restauração", que, por enquanto não cumpriu seu objetivo, mas recomendo que você estude sobre isto.