Não precisamos de mais regras...



O problema do homem não está em não saber o que fazer, pois todos sabem o que fazer e o que não fazer.

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Muito antes dos dez mandamentos serem dados a Moisés, “assassinato”, “cobiça”, “roubo”, “falso testemunho”, “adultério” e “desrespeito” já eram considerados crimes por muitas civilizações. Antes de Deus escrever as leis em pedra, nós já as tínhamos escritas em nossos corações; antes de haver uma lei oficial, por escrito, os homens já sabiam que certas coisas deveriam ser praticadas e outras nunca deveriam acontecer. Alguns povos antigos tinham leis muito parecidas com as que Deus passou a Moisés. Eu lhes pergunto: Mas afinal, o que isso prova? Isso prova que o problema do homem não está em descobrir o que se deve fazer, pois, a grosso modo, todos sabem o que se deve fazer. Todos sabemos que devemos valorizar virtudes como amor, paciência, honestidade, humildade, generosidade, etc. Não precisamos de uma revelação divina para descobrir que este é o caminho certo a ser seguido.

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Então, repito, o problema não é “não saber o que fazer”, mas sim “ter poder para fazer aquilo que sabemos que devemos fazer”. Há em nossos corações uma lei instalada (chamemo-la, como fez C.S. Lewis, de Lei do Certo e do Errado) a qual nos sentimos obrigados a obedecer perfeitamente, mas que, ao mesmo tempo, não conseguimos, e toda vez que a transgredimos, nos sentimos culpados. Nós temos dentro de nós um padrão de perfeição que todos queremos atingir, mas não conseguimos; uma lista de virtudes que sabemos que devemos adquirir, mas não temos forças para adquiri-la. A cada escolha que os homens fazem esta Lei do Certo e do Errado nos instrui no que deveríamos escolher.

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Não precisamos de uma revelação divina para saber que “ter demais” enquanto o seu próximo “não tem o suficiente” é errado. Intrinsecamente, todos sabem o que fazer diante de tal situação: Dividir. Também não precisamos de revelação divina para saber que não deveríamos trair a confiança de um amigo, muito menos se deitar com sua esposa, pois isso arruinaria uma amizade para sempre. Todos sabem que as drogas viciam e matam, Deus não precisa se manifestar dos céus dizendo em alta voz: “Não usem drogas, elas viciam e matam”. [Por acaso você começou a respeitar seus pais apenas depois de ter lido o mandamento “honre pai e mãe”? Não! Você já o fazia pois sabia, naturalmente, que essa é a coisa certa a se fazer!]

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De uma certa forma todos os homens e todas as civilizações sabem o que fazer para se ter uma sociedade funcional, harmoniosa, pacífica e feliz. Dentro do ser humano há um padrão de perfeição; há uma moralidade inata; há prioridades e valores; há uma Lei do Certo e Errado que nos incentiva a caminhar em direção à Paz, o Amor e a Harmonia.

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A minha pergunta então é esta: Já que sabemos o que fazer, por que não fazemos? Sabemos que devemos valorizar a vida acima de todas as outras coisas, então por que não valorizamos? Sabemos que “amar o próximo como a si mesmo” é o caminho, mas então por que não amamos? Sabemos que a decência é melhor do que a indecência; sabemos que as virtudes são mais proveitosas do que os vícios; sabemos que as drogas matam; sabemos que a pornografia destrói e desumaniza. Sabemos de todas essas coisas apesar de uma revelação divina, pois quando praticamos tais coisas, relacionamentos são prejudicados e a “vida” não pode acontecer de uma forma Harmoniosa, Pacífica, Justa e Amorosa. Se nós conhecemos a solução, por não a praticamos? Se nós sabemos o caminho da cura, por que ainda estamos doentes?

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Voltemos para os dez mandamentos. Já que quase todas as civilizações tinham um código de leis muito parecido com às dos Hebreus, qual é a diferença entre “os dez mandamentos” e quaisquer outros “mandamentos”? Eu respondo: a diferença está nos quatro primeiros. Antes de Deus oficializar os mandamentos básicos a todos os seres humanos (os últimos seis), Ele dá os quatro primeiros (exclusivo aos Hebreus). É como que se Deus estivesse vinculando a moralidade dos seis últimos mandamentos com os quatro primeiros.

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[Com isso estou dizendo que a única razão de eu ser uma pessoa boa, respeitosa, e não um assassino, ladrão e mentiroso, é por que Deus mandou? Não. Tento ser assim porque é o certo ser assim. Faço o bem por ele ser o bem. A questão é que sem a ajuda de Deus, não há homem que seja capaz de cumpri-los e ser o que deve ser. Como posso provar isso? Simplesmente olhando para a história do mundo. Cite para mim um homem que foi perfeito; que realmente foi como deveria ser. Diga-me o nome de um ser humano que foi perfeito em tudo o que fez e falou. Fora Jesus Cristo, não houve um. Não faço o bem “porque Deus mandou”, mas faço o bem “porque Deus me ajuda”, e sem a sua ajuda, “não há um justo, nem ninguém que faça o bem. Todos se corromperam” (Romanos); sem o auxílio de Deus, nós tentamos fazer o que sabemos que devemos fazer, e ser o que sabemos que devemos ser, mas nunca com sucesso]

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Repito, a moralidade dos seis últimos mandamentos está profundamente vinculada aos quatro primeiros, mais especialmente ainda no primeiro: “Eu sou o Senhor teu Deus [...] que te tirou da casa da escravidão”. Lembremos que essa conclusão não é minha, mas sim, possivelmente, de Dostoievski – “If God is not, everything is permitted” (Se Deus não é, tudo é permitido). A moralidade dos seis últimos mandamentos está profundamente vinculada à identidade de Deus; o poder para obedecer a Lei do Certo e Errado (como tínhamos dito antes) reside no caráter e no auxílio do Senhor.

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[Até Jesus quando resumiu todos os mandamentos em apenas dois, começou com “Amarás a Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma”, e então sim “ e amarás o próximo como a ti mesmo”. Jesus também vinculou o amor ao próximo e o poder de fazer o bem e ser bom à identidade de Deus.]

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O problema nunca foi “não saber o que fazer”, todos sabem o que fazer, o problema é “quem pode nos ajudar a fazer aquilo que sabemos que temos de fazer”? E Jesus responde essa pergunta com o primeiro mandamento que foi dado a Moisés: “O Senhor teu Deus que te tirou da casa da escravidão”.

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Jesus respondeu a nossa pergunta e resolveu o nosso problema, é como se Ele tivesse dito: Vocês sabem como devem ser e o que devem fazer, agora admitam que não conseguem; sejam humildes e peçam ajuda, porque “quem pedir receberá, quem buscar achará, quem bater, abrir-se-á”, “e todo aquele que vir a mim eu não o rejeitarei”.

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Quem não quiser ajuda do Senhor para ser transformado à imagem de Jesus Cristo, seu Filho, então pode tentar alcançar tal imagem sozinho –boa sorte!

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Aquele que quiser agradar a Deus sem a ajuda de Seu Filho pode tentar. Comece sendo perfeito em tudo o que você faz, diz e pensa. Incorpore o Espírito descrito no sermão do monte, seja SEMPRE perfeito em tudo e talvez esse seja um bom começo. Jesus sabendo da impossibilidade de chegar a essa patamar disse: “Tomem o meu fardo, o meu jugo, pois ele é leve”. Ele sabia que nós nunca seríamos perfeitos, pois Ele sabe o dano que a queda nos trouxe. Deus exigiu que nós sempre o imitássemos, dizendo “sede perfeitos como eu sou perfeito”, e ao mesmo tempo, sabendo que não seríamos, disse: “Feliz é o humilde, porque dele é o reino dos céus”, pois quem é humilde não tem problema em “arrepender-se”, pedir ajudar e tentar de novo.

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É uma fórmula simples: Sejam perfeitos, mas quando não conseguirem, arrependam-se e peçam ajuda, e Eu vos transformarei “de glória em glória” até “a imagem de Cristo estiver formada em vós”. Jesus sabe quais foram os danos da queda; Ele sabe que “nós nos tornamos inúteis, e que não há um que faça o bem, não há um justo sequer”, mas foi bem por isso mesmo que Ele veio, “pois os sãos não precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, eu vim chamar pecadores”.

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Em função da queda, perdermos os quatro primeiros mandamentos, mas ficamos com um vestígio dos seis últimos. Nascemos sabendo que não devemos matar, mas matamos; sabendo que não devemos roubar mas roubamos; sabendo que não deveríamos adulterar, mas adulteramos; sabendo que mentir é errado e prejudica, mas mentimos; sabendo que devemos respeitar e honrar pais, mas não respeitamos.

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Por isso os quatro primeiros mandamentos precisam ser ensinados, para que assim os últimos seis possam ser cumpridos [todavia, aquele que não conseguir cumpri-los, pode se arrepender, ser perdoado e ter uma nova chance]

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O maior problema dos homens sempre foi este: Quem pode nos ajudar a fazer aquilo que sabemos que temos de fazer, e a ser aquilo que sabemos que temos de ser? A resposta: Jesus, o Cristo, o próprio Deus encarnado; o Verbo.

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Deus não nos deu uma solução, Ele resolveu o nosso problema e disse: Agora aceitem a solução! Aquele que não aceitar a solução de Deus deverá resolver o seu problema sozinho –boa sorte!

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Guilherme Adriano

Comentários

Cicero disse…
Ótimo texto!
Creio que o problema do homem é tão antigo como aquela "serpente" - o orgulho, a não dependência de Deus, o homem ainda pensa que é todo-poderoso e o Divino seria desnecessário ...