Desabafo


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Já me disseram que eu vivo mais no céu do que na terra; que por causa da minha religião vivo mais no mundo imaginário do que no mundo real; que na verdade eu estou jogando a minha vida real fora para viver em uma realidade imaginária. Inclusive, minha família já disse que deveria viver e me divertir mais - definição de viver e se divertir: fumar, beber e transar. Em um livro, ou artigo (não me lembro bem) de um ateu famoso, lembro ter lido que "a fé cristã é uma fé completamente espiritual, com nada para oferecer a esta realidade." Ele não poderia ter errado mais.

Mas será que sou eu que vivo em fantasy land? Será a minha fé que me desconecta da realidade desse mundo? Até onde eu sei, não são os cristãos que acreditam em um mundo de paz, amor e igualdade, onde não haja mais guerra nem sofrimento, ou que o homem é naturalmente bom, e se baseando nessa ideologia, ficam em casa escrevendo poemas e imaginando um mundo melhor, enquanto o mundo lá fora morre aos poucos. Somente um sonhador para acreditar nesse tipo de utopia, quem tem a cabeça no lugar sabe que esse mundo jaz no maligno e não tem solução, [e se houver solução, ela está para além desta realidade]. E quem pode me contrariar? As estatísticas não concordam comigo? Como pode a religião ter me desligado da realidade? Ora, quando ela é justamente a responsável por ter me acordado à única realidade que existe: Este mundo é mal! Foi a religião que me acordou; que me mostrou a cara do mundo (e o coração das pessoas); que me mostrou que o mundo é, de fato, preto e branco e não colorido.

“A decisão cristã de considerar que o mundo é feio e mau fez ao mundo feio e mau” – (Nietzsche) Mas por que então a decisão ateísta de considerar o mundo um lugar bonito e bom não fez ao mundo um lugar bonito e bom. O caso não é considerar o mundo feio e mal, o caso é enxergar o óbvio; perceber o fato mais verificável que temos: o mundo é mau. E agora, como lidamos com ele? Será que Nietzsche achava o mundo um lugar bonito e bom? 

Foi essa tal de religião que me preparou para encarar um mundo feio, assim, desfazendo a beleza maquiada das historinhas que os sonhadores me contavam sobre a vida! Eu acreditei que o homem era bom, e que nele habitava a luz; o bem; que em cada pessoa não só habitava a verdade mas também todo o querer e o efetuar do bem. Mas não é bem isso que assistimos na TV, é? Não são essas as manchetes dos jornais e as capas das revistas, são? Não é essa a realidade do seu coração, é? Eu acreditei que eu mesmo era uma pessoa boa até ter olhado para os meus pensamentos, vontades, motivações e desejos. Quem será o santo que dirá o contrário? Aquele que não tem pecados, por favor, eu peço, atire o primeiro comentário! 

Eu vivo no mundo da lua? Com a cabeça mais no céu do que na terra? Ora, por favor, me respondam isto: São os músicos cristãos que cantam de um mundo imaginário; de romances impossíveis e sentimentos irreais; de um estilo de vida que não é possível, muito menos sustentável? Por acaso somos nós que recebemos uma lavagem cerebral e falamos, andamos, nos vestimos, nos maquiamos e gostamos de tudo aquilo que a nossa banda favorita manda? Sou eu que tenho o cabelo e o look do meu deus? Somos nós, os filhos de Deus, que penduramos imagens (posters) de nossos ídolos nas paredes de nossos quartos e, olhando para eles com grande admiração, tentamos ser igual? É o cristão verdadeiro que adora e segue homens? Graças a esse “amigo imaginário” que tenho é que hoje cresci (ou estou crescendo); por causa do livro mais “antiquado” do mundo é que entendi que o meu umbigo não é o único.

Engraçado que todos aqueles que vivem com a cabeça no mundo espiritual, geralmente são aqueles que mais se preocupam com as coisas do mundo real!

Foi este Jesus mitológico que me ensinou a valorizar aquilo que tem valor e parar de correr atrás daquilo que é inútil, porque os seres reais estavam muito ocupados decidindo o que iriam fazer no fim de semana. Lavagem cerebral? Há! Você ficaria feliz pelo fato de alguém ter lavado o meu cérebro se pudesse saber o que tinha nele!

Ah se não fosse esse livro antigo, antiquado e contraditório que me resgatasse da incoerência da vida puramente material e das filosofias nulas, eu ainda estaria atrás dos livros dos homens esclarecidos, aprendendo a dar “10 passos para conquistar isso”, “7 passos para conquistar aquilo”; ainda estaria relativizando a relatividade; negando o incontestável; duvidando do óbvio; questionando a minha própria existência e aprendendo a ser tudo aquilo que eu posso ser pela força das minhas próprias mãos: um monte de nada!

Se não fosse Ele, eu ainda estaria atrás da minha humanidade superior, e no processo, teria perdido a minha alma e jogado fora a minha vida.

Se você recebe elogios como os que eu recebo, por favor, compartilhe a sua loucura.

Guilherme Adriano

Comentários

Unknown disse…
Não Guilherme, eu não penso assim, infelizmente, e não sei porque muitas vezes sou eu que te critico!!!(o que é uma pena, eu era muito mais feliz quando pensava assim, mas também caia na tolice de acreditar em tudo que me falavam!)
abraço!
Duvide de mim, mas leia a Bíblia, infelizmente, a maioria faz o contrarário: Acredita em mim e duvida da Bíblia!

Meus pêsames por ter sido enganada...

Lembre-se: Duvidar não é pecado!