Deus se
importa com pessoas mais do que com sua própria glória, e é por isso que ele a
deixou lá em cima (Filipenses 2:7) e desceu aqui (João 1:14) como um judeu
pobre de família de má reputação. Em Jesus, ao contrário de nossa teologia, Deus
está dizendo algo como “estou c*gando e andando para minha glória, quero vocês,
todos vocês! ”.
Um deus que
busca se glorificar é um deus muito parecido com a gente. Já um deus que busca
amor e relacionamento não tem nada a ver com o que nós esperamos de uma
deidade. Não acredito que ele tenha criado a humanidade para adoração. Os
deuses gregos fizeram isso, eles precisavam ser adorados. O deus de Jesus não
precisa de nada disso, nem de adoração. Deus para ser Deus não precisa ser
adorado – para falar a verdade, nem sei se posso dizer que um deus que demanda sua adoração tem certeza de si
mesmo como Deus soberano.
Não
acredito que Deus nos fez porque precisava de algo de nós, mas acredito que Ele
nos fez porque quis nos dar algo. Teologicamente falando, a humanidade não foi
uma necessidade, foi um desejo. Então se continuarmos pensando em religião e
culto cristão como serviço e adoração a Deus, vamos continuar alimentando um
sistema que alimenta a si mesmo apenas – e as migalhas vão para os cães fieis. Deus
não precisa ser servido, nós precisamos. Lembra quando Jesus falou que quem
servir o próximo está servindo a Deus? Jesus simplesmente usou a mentalidade da
época, a de servir a Deus a todos os custos com o nosso melhor, e mudou o foco.
Ele mais ou menos disse assim, “ah, então vocês querem muito servir a Deus, né?
Tá bom, então sirvam os outros. Quem suprir o próximo de todo se coração estará
servindo a Deus, pronto.”.
Discorda?
Então você realmente acha que Deus precisava de cheiro de carne queimada e
farinha para ter pena da gente? Ou que sem algo morrer não haveria perdão? Ou
que hoje Ele precisa ouvir guitarras desafinadas e baterista fora do tempo para
amolecer seu coração nos fins de semana? Você acredita mesmo que Ele se admira
ou se alegra com o vocabulário ou duração de nossas orações? Apenas pense no
seu filho e o que ele precisa fazer para ter o seu perdão, amor e cuidado de
pai. Foi isso que Jesus fez, ele recontextualizou a relação homem-deus: de serviço
e sacrifício à divindade para serviço e sacrifício ao próximo (incluindo
inimigos!), “quem fizer isso ao menor entre vós, estará fazendo para mim”. Aliás,
você já percebeu que Jesus nunca pediu adoração nem disse que o Pai precisava
dela? Quem quisesse adorar, que adorasse. Quem não quisesse, que não adorasse.
Mas todos deveriam servir e amar o próximo. Todos!
Já se formos
falar em adoração, acho (e com boa base) que devemos pensar em arte e não
serviço. Adoração não é serviço, não é trabalho, é arte. E arte a gente faz
porque nos torna pessoas melhores. Arte nos ajuda a enxergar certos aspectos do
mundo (e de Deus) que não enxergávamos antes. Adoração é arte, e acho que Deus
sabe apreciar arte.
O serviço é
para os outros, e nisso, é para Ele. O amor é para os outros, e nisso, é para
Ele. Deus não precisa de nada, nem de nossa adoração. Acho que Deus busca
sujeitos, e não adjetivos. Encher o saco dele com “altíssimos” e “todo-poderoso-rei-de-tudo-e-de-todos”
não impressiona nem a Ele nem a nós. Imagina que chato seria se o seu filho
gastasse 2 minutos chamando sua atenção falando daquilo que você sempre soube
que você é: Ó Pai trabalhador, empresário, que sabe se vestir tão bem, que fala
tantas línguas e dirige todos os dias por tantas horas, me ajuda na tarefa? Que
perda de tempo, esforço e oportunidade de real comunicação. Se nem eu preciso
disso, por que você acha que Deus precisa?
Quão mais
bondoso alguém se torna, menos glória busca, e se isso é verdade para nós, megalomaníacos
desesperados por adulação, não seria verdade também para Deus?
Se a
teologia cristã não servir para fazer Deus um ser mais parecido com Jesus, serve
para quê?
Até nossos
melhores sistemas de teologia fizeram Deus uma deidade autoapaziguadora,
autoglorificadora e criadora de meios infernais para assim conseguir. Mesmo a
melhor da teologia cristã faz de Deus um vingador punitivo, um juiz terrível,
um pai irado. De acordo com os nossos incríveis volumes de entender como Deus
funciona, ou Deus condena os homens por fazerem o que Ele os predestinou a
fazer ou os condena por fazerem o que Ele sabia que inevitavelmente fariam –
não vou entrar no mérito daqueles que acham que Ele sequer sabia que fariam
tais coisas. Fizemos ele matar trocentos
enquanto ama um punhado – pois veja bem, não seria justo de outra maneira(?). Essa
imagem de divindade só funciona na teologia, aplicada a qualquer corte humana condenaria
Deus à cadeia. Mas Graças a Deus que Jesus redimiu Deus. Jesus resignificou
a palavra Deus. Em outras
palavras, no princípio, Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Um tempo
depois, o homem refez a Deus em sua
imagem e semelhança. Mas há uns 2000 anos, Deus se refez à sua imagem e
semelhança deixando-se ser pregado em uma cruz, e com isso, nos dando a chance
de ser como Ele por definitivo. Jesus é a ideia de Deus que Deus quer que
tenhamos. Jesus também é a ideia de ser humano que Deus quer busquemos. Jesus
é homem. Jesus é Deus.
Não seja
cristão, isso é chato. Eu sei porque sou há muito tempo. Seja como Jesus, isso
é difícil e suponho melhor aos olhos de Deus.
Guilherme Adriano
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