Não posso fechar meu e-mail ou
mandar mensagens em rede sociais sem me deparar com a foto de Justin Bieber
sendo preso, então quero falar sobre isso. Mas calma, não vou falar mal dele
aqui – apesar de não haver mérito musical, artístico, estético, intelectual ou
espiritual algum nele para que o oposto seja dito.
Desde sua ascensão como estrela pop,
a questão nunca foi se ele se destruiria como tantos outros (Britney, Lohan, etc),
mas em
quanto tempo o faria. Veja, Jesus ensinou que é impossível colher maçãs
de laranjeiras e laranjas de macieiras, mas aquilo que se planta se colhe. Quem
planta maçã, colhe maçã. Quem planta laranja, colhe laranja. Ora, o que os pais
de Bieber esperavam colher de seu filho quando tudo que plantavam em seu
coração desde pequeno foram sonhos de grandeza e fama? Pois não se enganem, os
primeiros grandes bandidos dessa história foram seus pais. O salmista disse que
filhos são como flechas na mão do arqueiro, vão para onde mirar (salmos 127:4).
Expuseram seu filho ao estrelismo, colheram uma estrela – cadente!
No entanto, não estamos falando de
flechas, e sim de pessoas com vontade própria. O salmo é apenas uma ilustração
da influência que os pais exercem sobre o filho. Portanto, enquanto o arqueiro
é completamente responsável pelo destino da flecha, os pais não são
completamente responsáveis pelo destino de seu filho. Filhos têm vontades
próprias e respondem, a partir de certa idade, responsavelmente por si mesmos. Ao
invés, voltemos à ilustração do plantio e da colheita. É certo que filhos
colherão, ao longo de suas vidas, os frutos de sementes que seus pais plantarem em
seus corações. Hoje, por exemplo, depois de muitas idas e vindas, colho frutos
das sementes de temor a Deus e respeito ao ser humano que minha mãe plantou em
mim desde pequeno.
O que estou
tentando evitar é cair nos extremos, o do (1) determinismo e da (2) deriva. O (1)
determinismo diz que fatores sociais – marxistas piram! –, psicológicos –
freudianos piram! –, biológicos – gayzistas piram! –, teológicos – calvinistas
piram! – ou de qualquer outra natureza determinam o comportamento da pessoa
para vida toda: quem nasce em família de bandido vai ser bandido, quem tem
problema com pais terá problemas com filhos, quem é homossexual nasce
homossexual, quem nasce predestinado a dar errado e ir para o inferno dará
errado e irá para o inferno, e outras babaquices parecidas – aliás, se o
determinismo estiver certo, seja da natureza que for, quer dizer que estou pré-determinado
a acreditar que o pré-determinismo é a maior balela do mundo, então não venha me
encher o saco nos comentários, pois não tenho outra escolha senão crer no que
fui pré-programado a acreditar (tuchê!).
Não quero
cair nesses extremos bobos. Não somos determinados pelo meio, muito menos por
Deus, mas somos pesadamente influenciados por ambos. Não poderia dizer melhor
que Sartre: Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz
com aquilo que fizeram com você. Claro, Sartre era ateu existencialista, cria
que estamos completamente à deriva, não o citaria em muita coisa, mas nesse
aspecto, ele acertou em cheio. Parte da imagem de Deus no homem é o
livre-arbítrio – agora sim calvinistas piram! –, temos o poder de ceder à
influência de quase tudo que quisermos e de rebelião contra quase tudo que
quisermos. O meio não determina, mas influencia muito, muito mesmo. Deus não força
nem determina, mas influencia muito, muito mesmo.
Pense na
vida do homem como um quarto cheio de portas. Cada porta impedindo algo do lado
de fora de entrar. O quarto será ocupado daquilo que o homem deixar entrar pela
porta que abrir. Claro, já nascemos com algumas dessas portas abertas e um
quarto já cheio de coisas – bagagem genética e ambiente sociocultural. Não
escolhemos família, gênero, um par de coisas. Acordamos nesse quarto já repleto
de circunstâncias com as quais teremos de viver para sempre. Mas o que faremos daquilo
com que nascemos e as portas que ainda abriremos para continuar enchendo nosso
quarto, isso cabe a nós fazer – dica: abra a porta em que Cristo bate: Eis que
estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei
em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo (Apocalipse 3:20).
O outro extremo bobo em que não devo
cair, ainda falando de Bieber por incrível que pareça, é precisamente aquele em
que Sartre caiu: estamos à (2) deriva, não há Deus, apenas carne, e tudo está
sob nosso poder. Não, não. Há coisas em que não temos escolha, e há coisas em
que temos toda escolha. Tanto uma posição quanto outra, do determinismo e da
deriva, são posições bobas, muito bobas.
Com isso tudo em mente, vamos voltar
ao menino da franja saltitante, Bieber. Seus pais determinaram seu futuro? Não.
Mas influenciaram muito, muito mesmo. A culpa é deles? Parcial. Foi de Bieber a
culpa de estar onde está? Sim, mas em partes. Mas então o que aconteceu? Carma?
Não, nem carma nem Deus nem sociedade, mas sementes. Sementes! A vida toda plantando
em seu coração sementes de imprudência, idolatria, estrelismo, fama,
materialismo, etc. Pois é, colheu exatamente o que plantou. Depois de uns anos,
essas sementes cresceram, criaram raízes, deram frutos e alimentaram muita
gente, infelizmente. Hoje, estamos vendo os frutos maduros de sementes que
Bieber mesmo e seus pais plantaram e cultivaram a finco. Então Bieber está
fadado a comer desses frutos para sempre? Não. Sempre há tempo para um novo
plantio e uma nova colheita. Por isso que a Bíblia diz para semear Deus
enquanto se ainda é jovem (Eclesiastes).
Termino com isto: sempre há tempo de
novo plantio e nova colheita.
Guilherme Adriano
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