Nossas Cruzes e Espinhos


Alguém sem o temor de Deus nunca está satisfeito ou em paz. Ele come, mas nunca se satisfaz, então come mais, morre de ataque cardíaco e culpa Deus por não curá-lo. Bebe, mas não consegue esquecer as mágoas, então se embebeda, ganha uma coragem a mais, sai de carro, atropela uma criança e culpa Deus por não proteger os inocentes. Ri, fuma e se diverte, mas não consegue paz, então apela às drogas para alívio imediato, vicia-se, atribui seu vício a uma inclinação genética e culpa Deus por não se importar com ele. Tenta acabar com seus problemas fugindo deles só para depois perceber que, como disse Kierkegaard, estava tentando o impossível: evitar ser o que é. Sente-se enclausurado e estressado pela rotina, então viaja para enclausurar e estressar-se no outro lado do mundo. Sente-se escravo de seu emprego, então tenta se abolir comprando coisas novas, logo, endividado, trabalha em dobro para pagar suas contas enquanto culpa Deus pela vida ser um ciclo sem sentido. Torna-se depressivo e peca, e por pecar, deprime-se ainda mais. Tem um parceiro diferente toda noite mas nunca está saciado, então busca outras alternativas, modos de intensificar o prazer de cada sensação, mas o que não percebe é que nessa busca pelo prazer sublime, torna-se cada vez menos humano e cada vez mais parecido com uma besta. Toda noite vai pra cama acompanhado, mas toda manhã acorda sozinho. Entrega-se a todos mas não se dedica a ninguém. Dá-se a todos como objeto e espera ser tratado como pessoa. Descompromissadamente procura um compromisso. E depois de anos vivendo assim, culpa Deus por não ter ajudado a encontrar um parceiro. Alguém me disse que Deus nunca nos dá uma cruz maior do que podemos carregar. Concordei. Mas também disse que a cruz que não conseguimos carregar não é Deus que nos dá, mas nós que a confeccionamos. 

Guilherme Adriano

Comentários

Anônimo disse…
So true....