de Mente aberta



Ouvi dizer que ter uma mente aberta é bom. Concordo! Claro, em partes. Certamente tenho uma mente aberta, porém não a tudo! Convenhamos que nem tudo é digno de ser absorvido pela mente; convenhamos: há muita filosofia inútil. Se “ter uma mente aberta” significa aceitar tudo e não crer em nada, então não, tenho uma mente fechada. Se “ter uma mente aberta” quer dizer crer em tudo, mas não ter nada como verdade, então novamente devo me considerar uma pessoa de mente fechada. Afinal, o que você quer dizer com “mente aberta”? “Aberta” a que afinal? “A tudo” alguém poderia argumentar. Mas e quem disse que “tudo” é bom e útil? Certamente uma mente sem um filtro logo se contaminaria e apodreceria. Você por acaso come de “tudo”? Claro que não, nem tudo faz bem!

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Sabemos que há coisas que se consumirmos nos farão mal, da mesma forma, há coisas que se acharem lugar em nossas mentes, nos farão mal! Nem “tudo” faz bem para a saúde física e mental, portanto deveríamos ser mais criteriosos. Ter uma mente aberta é bom, mas um filtro é necessário.

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Geralmente quando me deparo com uma pessoa de “mente aberta” gosto de perguntar se a sua mente também está aberta à verdade? Não estou agora me referindo à Verdade, Cristo, mas sim à verdade como definição e categoria absoluta.

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Não convém (nem é coerente) que tudo seja relativo, pois enquanto brincamos de tolerância religiosa e relatividade, a verdade nos condena. Acho importante prestar atenção a esse ponto, a verdade é maravilhosa e liberta, mas também condena. “Verdade”, como por categoria e definição, é exclusiva e absoluta; restrita e estreita e nela não pode haver variação; não muda.

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Ter uma mente aberta e ser tolerante é uma coisa, crer em tudo e ao mesmo tempo em nada é outra. É importante saber tolerar e conviver com pessoas de outras crenças. Mas ultimamente está fora da moda ser convicto. Para muitos, ter certezas agora é a mesma coisa que ser fanático.

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Acreditando em um pouco dessa religião e um pouco daquela; juntando um pouco desta doutrina com aquela doutrina, criamos uma “fé franquinstein”: monstruosa, ignorante e perigosa.

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Eu sou daqueles antiquados e quadrados que ainda crê na lógica do “único caminho”. Creio que todos os tipos de fé são verdadeiros no sentido de genuinidade e sinceridade, mas genuinidade e sinceridade nunca foram garantias de veracidade! É possível ter uma fé sincera e estar errado; é possível estar sinceramente errado; muito bem intencionado, porém errado. Veja bem, alguém pode pular de um avião com uma mochila cheia de livros crendo que esta mochila é um pára-quedas, mas crer que a mochila é um pára-quedas não a transforma num pára-quedas. Você pode sinceramente e de todo o seu coração crer que a mochila cheia de livros vai salvar a sua vida quando você abri-la, mas se a sua mochila não for, de fato, a mochila certa (um pára-quedas), então de nada adiantou a sua sinceridade. A conclusão é esta: É possível ser sincero e genuíno e estar errado. Sinceridade e genuinidade de fé não são garantias de veracidade. Você pode ter muita fé e ser muito sincero nas suas crenças, mas se elas não forem reais, de nada adiantarão.

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Diz-se que (1) “todos os caminhos levam a Deus”; que (2) “no fundo, todas as religiões são iguais”, e também que (3) “as religiões são diferentes, mas Deus é o mesmo!”. Bom, com respeito aos vários caminhos levando ao mesmo lugar (1), diga-me, quantos caminhos você consegue imaginar entre o ponto A e o ponto B? Mesmo se dermos voltas e voltas, continuará sendo: Partida: A. Chegada: B, portanto um caminho. Dificilmente você acreditaria em alguém que dissesse que o mercado é à direta, e ao mesmo tempo, à esquerda. Imagine tal diálogo:

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Você: Moço! Com licença, eu estou meio perdido, você poderia me dar uma informação?

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Moço: Claro, como posso ajudá-lo?

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Você: Estou perdido e tentando chegar ao Mercado, em que direção ele fica?

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Moço: Na verdade, tanto faz! Qualquer caminho que você pegar você chegará ao Mercado! Apenas creia que você vai chegar lá, e dirija!

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O que você diria de alguém que lhe dissesse isto? “Tanto faz! Qualquer caminho!”, “Apenas seja sincero e vá!”. Pode até parecer bonito, tolerante, misterioso, mas no fundo é estúpido e engraçado. Garanto-lhe: se você estivesse em tal situação e virasse à direta, você não teria o mesmo destino de alguém que virasse à esquerda ou daquele que seguisse em frente sem virar. No fim do dia apenas um chegaria ao mercado e os outros estariam perdidos. É logicamente incompatível dizer que tanto direita quanto esquerda têm o mesmo destino.

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Responda-me: quando que duas linhas divergentes (que do mesmo ponto de partida se afastam em determinado ângulo) se encontrarão novamente? Ora, nunca! Elas são d-i-v-e-r-g-e-n-t-e-s; são caminhos diferentes, podem sim ter o mesmo ponto de partida, mas não o mesmo destino! Todas as religiões não podem estar certas, elas apontam caminhos contrários. Elas são superficialmente similares, mas fundamentalmente diferentes e contraditórias. Quem afirma que (2) todas as religiões são iguais certamente não entende muito de religião.

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Cada religião faz afirmações exclusivas e únicas, se todas estiverem certas, então a lógica está errada. Leia o que um ateu sarcasticamente escreveu: “Creio em todas as religiões, pois afinal, elas são a mesma coisa, todas elas crêem no amor e na bondade, apenas se diferem em termos de Deus, diabo, céu, inferno, anjos, demônios, salvação, vida pós-morte e verdade; detalhes”. Se Cristo é o caminho, então todas as outras religiões estão erradas e levam à perdição e danação da alma, e vice-versa.

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A verdade é exclusiva (exclui outras possibilidades).

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Eu poderia escrever muito ainda, argumentar e argumentar, mas prefiro parar por aqui. Já disse um grande teólogo: “você pode argumentar contra um argumento, mas não contra uma vida transformada”. As obras de Jesus Cristo falaram mais alto que suas palavras. Ele não pôde (nem pode) ser refutado por isso. Ele viveu o que pregou e pregou o que viveu. Agora olhe para a sua vida; para o tipo de vida que você vive. Analise as suas paixões e desejos. Preste atenção no tipo de coisas que você deseja ter e fazer; nos seus pensamentos; nos seus costumes. Vejam bem quais são as suas ambições, e depois de fazer isso, diga-me quem é o teu Deus.

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Não creio no que os homens dizem sobre Deus, mas sim no que Deus disse de si mesmo. Os homens dizem que há vários caminhos e várias maneiras de agradar a Deus, porém Deus disse que há somente um caminho e uma maneira de agradá-lo. Os homens anunciam o “caminho largo (por onde muitos entram)”, o Cristo anunciou o “caminho estreito (pelo qual poucos querem entrar)”. Siga o caminho que você quiser! Mas também esteja disposto a arcar com as conseqüências das suas escolhas; esteja preparado para o destino ao qual esse caminho te conduz.

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O que mais posso dizer que ainda não foi dito? Que outro apelo poderia fazer que já não foi feito? A mensagem continua sendo a mesma mensagem repetitiva de sempre: “arrependa-se, creia em Jesus e viva!”. Se você já está trilhando o “caminho estreito”, então te vejo lá na frente! Se você está trilhando o “caminho largo”, repense se vale a pena trocar uma eternidade com o Deus Pai por alguns ápices de (pseudo)prazer.

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Guilherme Adriano

Comentários

A Caminhada disse…
Guilherme,

Outro post seu que gostei muito.

Quero apenas dividir com você e com os leitores um questionamento que Li num livro que era mais ou menos assim:

"Com quem Deus mais teria consideração? Com uma pessoa de coração verdadeiro que segue ao deus falso ou alguém com coração falso que segue ao Deus verdadeiro?"

Lembrei-me agora também da parábola do patrão que chega em casa sem hora marcada e pega os empregados de surpresa (Lc 12,35-48). Lá está escrito: "A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!"

Nessa parábola o patrão sabe pesar a mão sobre aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer a sua vontade.

O caminho é estreito, mas muito maior é a sua misericórdia.

Que Jesus tenha misericórdia de nós e abra sempre nossas mentes, bocas e coração para entender e propagar de forma correta a Sua vontade.
Anônimo disse…
Querido Guilherme,
Queridos irmãos.

Olha eu aqui de novo!

Quando li esse post pela 1a vez fique super animado quando Guilherme disse: " te encontro do outro lado" (embora que há pouco tempo, também tenho aprendido a amar e crer em Jesus. tenho também tentado segui-lo).

Essas palavras me deixaram bastante confiante e seguro.

No dia seguinte, a liturgia diária que sempre leio ao acordar (sou católico) veio me trazer de volta ao patamar que considero muito importante a quem quer encontrar a Deus (acho que já li isso no seu blog, Guilherme.. rs), ao patamar do questionamento e das incertezas. (Por que buscar aquilo que já encontrei e já tenho? Por que me esforçar?).

Nesse dia, Jesus em Mc 10, 17-31, nos mostra que a nossa lógica nem sempre é a mesma que a de Deus. (Vocês já viram um camelo passar pelo buraco da agulha?)

Nos mostra também que mesmo que nossa mente (aberta ou não) não esteja sujeita a coisas contrárias a lei, aos profetas e ao mandamentos, será que estamos dispostos a dar mais um passo a frente?

O que ainda nos prende? O que não conseguiríamos abrir mão?

Se Jesus fôssemos o jovem rico e Jesus nos dissesse "Vende tudo, doa e me segue", o que faríamos?

Será que abriríamos mão de nosso entendimento, da pregação, da internet, pelo trabalho braçal do serviço, puro e simples?

Será que abriríamos mão da retórica pela ação catequética e missionária em meio a tribos indígenas brasileiras ou africanas que nunca ouviram e tiveram a oportunidade de falar de Jesus?

Quanta chibatadas eu e você receberíamos? Nós somos os servos que conhecem a vontade de nosso patrão e os índios quem são? Os pagãos?

Que Jesus, por sua graça, nos permita e nos ajude na busca da perfeição, da santidade e da vida eterna e tenha misericórdia de todos nós.

Tavinho e Cris
(a caminhada)